Desde o anúncio da chegada da Arauco — gigante do setor de celulose — ao município de Inocência, distante 330 quilômetros de Campo Grande, os reflexos do desenvolvimento acelerado já começam a ser sentidos pelo comércio local.
Setores como alimentação, hospedagem e serviços essenciais enfrentam dificuldades diante da escassez de mão de obra, dos desafios logísticos e das mudanças culturais trazidas por novos moradores e trabalhadores de diversas regiões do país.
Diante desse cenário, comerciantes têm buscado se reinventar e adaptar seus negócios para acompanhar o ritmo de crescimento da cidade. Apesar dos obstáculos, o sentimento é de otimismo, com boas perspectivas de prosperidade e expansão para o futuro do comércio local.
Hotéis vivenciam o crescimento do setor
O Hotel Califórnia é um dos pioneiros do setor em Inocência e iniciou suas atividades na cidade em 2009, com 31 apartamentos. Após a chegada da celulose, o aumento da demanda da hospedagem fez com que os responsáveis pelo empreendimento investissem na construção de uma nova ala com mais 20 quartos, que foi inaugurada há seis meses.
Atualmente, o hotel opera com lotação máxima, e para conseguir uma reserva, é preciso agendar com duas semanas de antecedência. Outra mudança significativa sentida pelos funcionários foi em relação ao perfil dos hóspedes, que agora chegam de todos os estados do Brasil e até mesmo de fora do país.
A gerente administrativa do hotel, Rita Rosângela de Souza, comenta que além da abertura de mais quartos, a equipe também passa por diversas reuniões de alinhamento.
“Claro que não é uma mudança que vai acontecer esse ano. Pra gente se preparar será um período longo, mas a gente está buscando conhecimento, buscando fazer reuniões, buscando opiniões com hóspedes que vêm, ouvindo sugestões. Eles contam como é [a hospedagem] em outros lugares e a gente vai se adequando”, resume a gerente.

Há poucos metros da cidade, na rodovia MS-112, o Inocência Park Hotel conta com vinte quartos montados em um loteamento. De acordo com o proprietário, Neander Cortez Lucena, já foi dado o início à ampliação de mais 120 quartos, para atender as demandas da fábrica.
O empreendimento funciona há quatro meses, mas o proprietário detalha que o hotel foi projetado há dois anos, quando a Arauco sinalizou que instalaria sua fábrica no município. A ideia é atender a cidade tanto durante as operações, quanto depois. No entanto, o empresário destaca dificuldades na logística e escassez de mão de obra.
“A gente veio pra Inocência visando a parte de evolução imobiliária. A cidade tende a crescer muito e dar esse suporte pra nós, que somos investidores. Viemos pra cá pra investir em uma demanda que é amplamente divulgada, que é a falta de hospedagem em Inocência”, resume Neander.



Comércio sofre com falta de mão de obra
Adinilson Nunes administra um mercado na cidade e comenta que, com a chegada da celulose, a procura por trabalhadores aumentou e o comércio enfrenta dificuldade para suprir a demanda. Um dos motivos citados pelo comerciante é a alta nos preços dos aluguéis, que dificulta o interesse em novos trabalhadores se estabelecerem na cidade.
O comerciante revela que busca funcionários em outras cidades e tenta realocar trabalhadores de sua filial em Paranaiba, e para sanar o problema com moradia, oferece alojamentos na cidade para abrigar os trabalhadores.
“Hoje o nosso maior desafio é investir, mas a tem que investir porque é uma grande oportunidade para todos os segmentos, não só o meu. A cidade vem numa velocidade de crescimento e a gente tem que acompanhar. Temos que aproveitar o desenvolvimento que chegou muito rápido e bastante dinâmico”, diz.
Antônio Batista Pereira possui um mercado há 20 anos, e também enfrenta problemas com a falta de mão de obra. Ele conta que nas últimas duas décadas observou muitas mudanças na cidade, mas nenhuma comparada a chegada da fábrica de celulose.
Para ele, o empreendimento significa uma esperança de crescimento, mas antes, precisa lidar com as ‘dores do crescimento’ e adaptar o comércio à nova realidade. “Estou conseguindo manter o mercado, mas não é fácil não, é muito apertado. Falta muita mão de obra, falta qualificação dos serviços, falta incentivo para as pessoas.”

Chegada da fábrica abre portas para novos e antigos negócios
A chegada da gigante de celulose também atraiu moradores de outros municípios de Mato Grosso do Sul, que decidiram aproveitar o ‘boom’ econômico e investir em empreendimentos em Inocência. O casal Adriano Pereira e Larissa Makye abandonaram suas profissões e se mudaram de Três Lagoas, para investir em um restaurante.
Eles estão na cidade há cerca de um mês, e contam que foram atraídos pela promessa de crescimento da cidade. Com boas expectativas para o futuro, o casal comenta que o restaurante também é uma oportunidade de dedicar mais tempo à criação do filho, Nicolas, de sete meses.
O intuito do casal é alavancar as vendas oferecendo alimentação tanto para os moradores e visitantes da cidade, quanto para os trabalhadores em obras.
“A gente tem feito um levantamento da população e da quantidade de pessoas que estão vindo, quantidade de restaurante, para a gente ter uma média de quantas pessoas a gente vai conseguir atender. A gente está estudando o fechamento de contrato para fornecer marmita também para essas pessoas das obras e que não podem se deslocar e vim até aqui almoçar”.
O barbeiro Salen Soares viu sua clientela aumentar de oito para 20 pessoas atendidas por dia após o começo das obras da fábrica. Para ele, acompanhar o crescimento da cidade vai depender da mentalidade e preparo de cada comerciante, por isso já vêm se preparando para dar conta do fluxo de clientes, que aumenta a cada dia.
“Eu atendo o público masculino, então pra minha parte, está melhorando. Cada dia que vai passando, vão chegando mais homens, e a cidade ainda não está com o total que se espera. Então a expectativa [de crescimento] é gigante”.

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