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Crise na UFMS: governo federal investe em quadras esportivas e ignora fome e falta de estrutura em Três Lagoas

Foto: reprodução
Rogério Potinatti
15/4/2025
às
8:00

Enquanto o Governo Federal firma contratos de quase R$ 5 milhões para erguer quadras poliesportivas nos campi da UFMS de Coxim, Naviraí, Aquidauana, Nova Andradina e Ponta Porã, os estudantes de Três Lagoas seguem sem o básico: comida, estrutura e professores. O cenário desafia a lógica da gestão pública, revelando um contrassenso digno de protesto — e foi exatamente isso que aconteceu.

Na última quinta-feira (10), universitários do campus realizaram uma manifestação em frente ao Restaurante Universitário (RU), fechado desde 24 de fevereiro após suspeitas de fraude e corrupção.

Com cartazes e panelas, eles exigiam o mínimo para estudar com dignidade: alimentação. O restaurante, que deveria atender mais de 2 mil alunos diariamente, foi interditado em uma operação da Polícia Federal que identificou irregularidades no contrato com a empresa três-lagoense M.A.B LIMA & CIA LTDA, incluindo superfaturamento e fraude na concessão de refeições.

Enquanto a UFMS tenta “tapar o sol com a peneira” oferecendo auxílio de R$ 300 para apenas 160 estudantes — diante de uma demanda de pelo menos 510 inscritos —, os alunos relatam estar comendo no chão, sob o sol, ou nos corredores dos blocos. “É desumano”, resumiu Vitória Santos, aluna do 5º semestre de Direito.

Operação da Polícia Federal no campus de Três Lagoas | reprodução/PF

O estudante Gabriel Dias, também de Direito, acrescenta: “Fizeram um edital, mas muitos ficaram de fora. A situação está caótica. Não é só sobre comida, é sobre respeito e dignidade”.

Contra-senso

Ao mesmo tempo, consta no Diário Oficial da União que a Fundação UFMS assinou cinco contratos, entre R$ 965 mil e R$ 1 milhão, com a empresa Dias Construtora e Empreendimentos LTDA, para construção das quadras poliesportivas cobertas em diferentes campi de Mato Grosso do Sul. O prazo para entrega das obras vai até dezembro de 2025.

A ironia salta aos olhos: enquanto se planejam espaços para práticas esportivas futuras, os alunos do presente não têm onde comer, assistir aula ou contar com professores suficientes — especialmente no curso de Medicina, que já acumula lacunas graves na grade curricular.

O prazo para uma nova licitação do RU venceu no início de abril, mas nenhuma solução concreta foi apresentada até agora. A ausência de respostas motivou o protesto do dia 10, onde os próprios estudantes cozinharam em frente ao RU interditado. “Fizemos arroz, feijão, cada um trouxe um pouco, porque se não for assim, a gente passa fome mesmo”, disse um manifestante.

É nesse cenário surreal que a UFMS em Três Lagoas tenta sobreviver: entre o descaso institucional e o esforço coletivo dos estudantes para manter viva a dignidade universitária.

Restaurante interditado em Três Lagoas | reprodução/redes sociais

Criação da Universidade Federal de Três Lagoas (UFTL)

Diante das recorrentes crises enfrentadas no campus da UFMS em Três Lagoas — como a suspensão do Restaurante Universitário, a falta de professores em cursos essenciais como Medicina e a carência de estrutura adequada para acolher os estudantes —, um novo movimento começa a ganhar força na cidade: a criação da Universidade Federal de Três Lagoas (UFTL).

A proposta, que nasceu de debates entre estudantes, professores, servidores e membros da sociedade civil organizada, visa dar mais autonomia administrativa e orçamentária à educação superior local, garantindo decisões mais ágeis e voltadas diretamente às demandas do município.

Inspirada no modelo adotado em Dourados, que resultou na criação da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) após desmembramento da UFMS, a UFTL surge como uma alternativa concreta para dar protagonismo a Três Lagoas dentro do cenário federal.

Os defensores da ideia argumentam que uma instituição com sede própria, orçamento exclusivo e gestão local poderia evitar episódios de negligência como os que têm afetado a comunidade acadêmica nas últimas semanas, oferecendo serviços de qualidade e ampliando a presença universitária na região leste do estado.

O debate ganhou fôlego após os protestos organizados pelos estudantes no dia 10 de abril e já tem data para chegar ao centro das discussões políticas da cidade. O presidente da Câmara Municipal, vereador Tonhão, anunciou a realização de uma audiência pública nas próximas semanas para tratar exclusivamente da proposta de criação da UFTL.

O objetivo, conforme o parlamentar, é reunir representantes da comunidade acadêmica, autoridades municipais, lideranças regionais e técnicos da área de educação para discutir a viabilidade da nova universidade federal e dar os primeiros passos rumo à sua formalização.

Tonhão, presidente da Câmara Municipal, pretende ampliar o debate sobre a criação da UFTL | cedida