Mesmo concentrando o segundo maior PIB de Mato Grosso do Sul e abrigando o maior polo de produção de celulose do mundo, Três Lagoas ficou fora do trecho duplicado da BR-262, uma das principais obras anunciadas dentro da concessão da Rota da Celulose, oficializada recentemente pelo Governo do Estado.
De acordo com o vereador Fernando Jurado, que esteve na última semana em Campo Grande para buscar detalhes do projeto, a duplicação será feita apenas entre Campo Grande e Ribas do Rio Pardo. Para Três Lagoas, estão previstas apenas obras de terceiras faixas e a instalação de praças de pedágio.
"É um alerta preocupante. Nossa cidade tem papel estratégico na economia estadual, mas foi ignorada em uma obra estruturante. A ausência de uma representação política forte nos coloca sempre à margem das grandes decisões", afirmou Jurado.
Empresários se mobilizam
Diante da insatisfação com a exclusão da cidade, empresários locais iniciaram articulações para formar uma caravana até Campo Grande, com o objetivo de cobrar diretamente do Executivo e do Legislativo estadual a revisão do projeto. A mobilização é vista como um passo necessário para exigir que Três Lagoas receba investimentos compatíveis com sua importância econômica e logística.
A expectativa é que a comitiva reúna lideranças industriais, representantes da classe produtiva e integrantes de entidades empresariais para pressionar por uma solução concreta e mais justa para o município.
Para Jurado, a exclusão da duplicação é um reflexo direto da ausência de representantes de Três Lagoas na Assembleia Legislativa e no Congresso Nacional. “Estamos há décadas sem ter alguém eleito em Brasília que defenda nossa região. Enquanto outras cidades têm parlamentares pressionando por obras, nós ficamos esperando sobras de investimentos”, lamentou.
Ele também alertou que a falta de voz política tem impacto real no dia a dia da população. “A duplicação da BR-262 não é luxo. É uma necessidade urgente diante do alto tráfego de cargas pesadas e veículos. É uma oportunidade perdida de melhorar a segurança e a infraestrutura logística da nossa cidade”, reforçou.
Rota da Celulose terá pedágio mais caro que BR-163
Além de ficar fora da duplicação, Três Lagoas também será diretamente impactada pelo alto custo dos pedágios previstos na nova concessão. Com 870 km de extensão, a Rota da Celulose custará R$ 151,06 para um carro de passeio percorrer toda a rodovia — valor já com deságio de 9% oferecido pelo consórcio vencedor do leilão, formado pelas empresas K-Infra e Galapagos Capital.
Na BR-163, com 847 km, o custo atual é de R$ 72,50, ou seja, menos da metade. Em termos proporcionais, o custo médio por quilômetro será de R$ 0,17 na Rota da Celulose, contra R$ 0,08 na BR-163. Mesmo com a relicitação da BR-163 marcada para 22 de maio, o novo valor só deverá se igualar ao da nova concessão daqui a quatro anos. A previsão para o primeiro ano é de aumento de 33%, elevando o custo por km para pouco mais de R$ 0,10.
Com a mobilização dos empresários e o discurso firme do Legislativo local, cresce a pressão sobre o Governo do Estado para rever o escopo das obras. Jurado finalizou: “Chegou a hora de mostrar que Três Lagoas não pode mais ser invisível nas decisões que moldam o futuro do Estado. Não queremos tratamento especial, apenas justiça e respeito à contribuição que damos ao Mato Grosso do Sul”.
