A Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul se posicionou com firmeza contra o grito de guerra adotado por integrantes da nova turma do Curso de Formação de Soldados da Polícia Militar do Estado.
O canto, registrado em vídeo e divulgado nas redes sociais, contém frases que exaltam práticas violentas e ilegais, que demonstram práticas de tortura e até assassinato, como “espancar até matar” e “arrancar a cabeça”. A formatura dos novos PMs aconteceu na última semana e o vídeo foi amplamente divulgado nas redes sociais.
No vídeo, os alunos e um instrutor batem palmas e gritam, entre outros, os seguintes versos:
“Bate na cara, espanca até matar
Arranca a cabeça dele e joga ela pra cá
O interrogatório é muito fácil de fazer
Eu pego o vagabundo e bato nele até morrer
Desce aqui e venha conhecer
A tropa da PM que cancela CPF”

Para os núcleos especializados da Defensoria — voltados ao sistema penitenciário, direitos humanos e criminal — o episódio representa uma grave apologia à violência institucional e à tortura, além de desrespeitar frontalmente a Constituição Federal e os princípios do Estado Democrático de Direito.
A instituição alerta que esse tipo de comportamento fere a missão da própria Polícia Militar, que é, segundo sua diretriz oficial, proteger a sociedade com base na segurança cidadã.
Ao legitimar a brutalidade como ferramenta de atuação, os novos recrutas comprometem a imagem da corporação e colocam em risco a relação de confiança entre polícia e população.
“O que se viu foi um grito de guerra que enaltece práticas incompatíveis com a legalidade, com o respeito à dignidade humana e com a função pública que esses agentes irão exercer”, afirma a Defensoria, em nota pública.
A entidade também destacou que discursos violentos como esse ajudam a perpetuar ciclos de abuso e alimentam a cultura da repressão.
A Defensoria informou ainda que vai exigir das autoridades competentes — especialmente do Comando da Polícia Militar e da Secretaria de Justiça e Segurança Pública — a imediata apuração do caso, com responsabilização dos envolvidos e revisão dos processos de formação e doutrina militar.
A repercussão do caso reacendeu o debate sobre a formação das forças de segurança e a necessidade de políticas públicas que priorizem o respeito aos direitos humanos e à cidadania, inclusive nos treinamentos militares.
Resposta da PMMS
A assessoria de comunicação da PMMS se posicionou por meio de uma nota oficial enviada à imprensa, que informou que os fatos serão apurados.
Confira a nota na íntegra:
“O Governo do Estado de Mato Grosso do Sul manifesta publicamente seu repúdio a quaisquer condutas que incentivem a violência, e determinou a adoção imediata das providências cabíveis, com rigorosa apuração dos fatos e aplicação das sanções legais previstas.
A Polícia Militar do Estado de Mato Grosso do Sul lamenta o ocorrido e esclarece que o episódio consiste em uma manifestação isolada, não representando os valores, princípios e o padrão institucional da corporação.
A expressão utilizada não foi criada pela instituição e tampouco faz parte de seus protocolos oficiais.
A preparação do efetivo inclui disciplinas voltadas à valorização da vida, respeito às minorias e atuação comunitária.
O Governo de Mato Grosso do Sul enfatiza que forma policiais para defender a sociedade, a vida, a segurança e a paz.”.