Dez pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público Estadual (MPE) sob a acusação de envolvimento em um esquema que desviou R$ 11 milhões dos cofres públicos de Água Clara, no Mato Grosso do Sul. Entre os acusados estão as secretárias municipais de Educação e Finanças, além de empresários do ramo alimentício. O caso é o primeiro desdobramento da Operação Malebolge, deflagrada em fevereiro deste ano.
Segundo as investigações conduzidas pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), o grupo é acusado de organização criminosa, peculato, corrupção ativa e passiva, fraude em licitações e falsidade documental. O Ministério Público também pediu a condenação dos envolvidos ao pagamento de indenização por danos morais coletivos.
O esquema girava em torno de contratos para fornecimento de merenda escolar, fraldas e cestas básicas. De acordo com o Gaeco, empresários como Mauro Mayer da Silva e Adão Celestino Fernandes, donos das empresas Zellitec Comércio de Produtos Alimentícios e Royal Soluções Comércio e Serviços, venciam licitações oferecendo preços muito abaixo do mercado. Em troca, entregavam produtos em quantidade reduzida e, em alguns casos, inferiores à qualidade prevista nos contratos. Para manter os esquemas, pagamentos mensais de propina eram feitos a servidoras públicas.

Fraudes reveladas
Uma das fraudes detalhadas pelos promotores envolve o fornecimento de merenda escolar. Mauro Mayer acertou um contrato mensal de R$ 200 mil e o pagamento de propina de R$ 15 mil para uma funcionária pública. Para vencer o processo licitatório, subfaturou produtos como carne bovina e coxa de frango, fornecendo cortes de qualidade inferior.
Mesmo após a anulação de um dos contratos pelo Tribunal de Contas do Estado, que identificou irregularidades, a Zellitec continuou vencendo licitações no município. Em 2024 e 2025, a empresa garantiu contratos de mais de R$ 5,9 milhões para fornecimento de alimentos.
As irregularidades não pararam por aí: em maio do ano passado, a prefeitura recebeu 12 toneladas de carne em condições inadequadas de transporte e armazenamento.
Um vereador local chegou a registrar a precariedade da carga, com parte dos alimentos impróprios para consumo. Além disso, carne foi entregue em excesso nos últimos dias do ano letivo, quando o número de estudantes ativos na rede municipal era muito menor.
Manipulação de preços
As investigações revelaram também que, embora licitasse carne de primeira qualidade, como patinho moído, os fornecedores entregavam cortes de valor inferior, alterando as informações apenas nas etiquetas. Em conversas interceptadas, empresários orientavam açougueiros a registrar cortes mais baratos como se fossem produtos nobres.
Outros denunciados no esquema são Ícaro Luiz Almeida Nascimento, Leonardo Antônio Siqueira Machado, Valmir Deuzébio, Kamilla Zaine dos Reis Santos Oliveira, Jânia Alfaro Socorro e Ana Carla Benette.
Desdobramentos
Enquanto avança a ação penal referente a Água Clara, o Ministério Público prepara uma nova denúncia envolvendo desvios semelhantes na Prefeitura de Rochedo, também sob investigação na Operação Malebolge.