Há 20 anos, o engenheiro Rubens Silvestrini, professor doutor da Faeng (Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo e Geografia) da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), observou pequenas fissuras na barragem da represa do loteamento de luxo Nasa Park, em Jaraguari, que se rompeu na manhã de terça-feira (20), e alertou aos órgãos competentes que poderia haver a necessidade de manutenção no futuro.
Segundo Rubens, foi uma recomendação antiga e simplista, feita através da observação in loco. Não foi levada em consideração dados técnicos, por exemplo. “Quando estive em 2004, vi pequenas fissuras, como se fossem pequenas estrias. Mais uma vez, isso é normal pois trata-se de terra. Alertamos aos órgãos competentes que poderia haver a necessidade de manutenção no futuro. Para aquela época, não era emergencial”, disse.
Conforme o professor, toda barragem, de todos os tipos como concreto, aterro ou enrocamento (estrutura executada em pedra), é um agregado de solo e segmentos. “Para simplificar, um amontoado de terra para estabilizar a massa de água. Qualquer que seja a barragem, tem um tempo de fixação. Depois de anos, ela vai ter acomodação e urge a necessidade de reparos”, explicou.
Rubens disse que a barragem fica em um lago cênico, usado para contemplação. “A barragem está ali para aguentar pequenas atividades, mas uma das causas do rompimento pode ser a utilização de equipamentos pesados, o que acaba criando pequenas ondas, marolas. Na Ciência, chamamos de hidrodinâmica, pois a água tem um valor de pressão quando entra em movimento”, destacou.
O professor explicou ainda que se a barragem foi feita para a água “ficar parada”, não é interessante a marola (onda pequena). “A presença de chácaras também pode ter contribuído, pois o espaço passou a ser um local de lazer. É uma preocupação técnica. A partir de agora, tudo precisa de perícia, cabe ao proprietário provar a consultoria e manutenção. Também precisa rever alvará, licença ambiental por parte do Imasul. A tragédia já aconteceu".
De acordo com Rubens, os próximos passos incluem a remoção da lama para a reconstrução da barragem. “É difícil falar em tempo. Para isso, precisa recompor a mata ciliar, tempo de acomodação. Muito do córrego perdeu a área de preservação. Pode precisar de replantio".
Segundo ele, todas as barragens do Brasil são antigas, poucas tiveram investimentos com sensores como Brumadinho ou Mariana. "Aos moradores, o tempo agora é de organização, criação de um estatuto para questionar a empresa responsável”.
Ontem, por meio de nota, a administração do loteamento de luxo, Nasa Park, lamentou o ocorrido e disse que acionou as autoridades competentes e colaborou para que todas as medidas fossem tomadas. Segundo o texto, uma equipe de engenheiros especializados está realizando estudo detalhado para determinar a causa do rompimento e propor medidas corretivas.
"É importante destacar que o Nasa Park opera em conformidade com todas as normas e regulamentos vigentes. Ao ser concebido, o projeto teve manifestações favoráveis do Imasul (Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), incluindo o projeto aprovado pelo Corpo de Bombeiros e os certificados ambientais devidamente validados", consta em trecho da nota.
O Imasul informou que já havia notificado o empreendimento por falta de manutenção na barragem, em 2019 e no ano passado. Porém, não foi comprovado se a situação havia sido resolvida.
“A notificação especificava quatro itens que o responsável pela barragem deveria cumprir. O primeiro era a regularização ambiental, que incluía a obtenção da outorga para a barragem. O segundo item envolvia a realização de manutenção na barragem, como a limpeza e a remoção do excesso de vegetação. O terceiro exigia a apresentação do Plano de Segurança da Barragem. E o quarto item pedia a elaboração do Plano de Ação de Emergência, para ser aplicado em caso de acidente”, segundo informado pela assessoria de imprensa do órgão.
Agora, os impactos ambientais estão sendo levantados pelo Imasul, com apoio da Defesa Civil.
Campo Grande News