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Indústria nacional da saúde ganha fôlego com investimentos bilionários e apoio governamental

Foto: reprodução/EBC
Da redação
22/4/2025
às
7:30

Três importantes iniciativas anunciadas recentemente mostram que o Brasil está decidido a fortalecer sua produção interna de medicamentos, vacinas e tecnologias voltadas à saúde pública. Todas estão alinhadas à estratégia do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Ceis), um dos pilares da política “Nova Indústria Brasil” (NIB), que busca reindustrializar o país com foco em inovação e soberania sanitária.

Durante evento em Montes Claros (MG), com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk anunciou um investimento de R$ 6,4 bilhões na construção de uma nova fábrica no Brasil. O objetivo é ampliar a produção de medicamentos injetáveis voltados ao tratamento de diabetes, obesidade e outras doenças crônicas. O projeto deve gerar pelo menos 600 novos empregos e ampliar o fornecimento ao Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente de insulinas e medicamentos para hemofilia.

No mesmo dia, um consórcio formado pelo BNDES, Finep e Fundação Butantan comunicou a criação de um fundo de pelo menos R$ 200 milhões destinado a apoiar startups e empresas inovadoras na área da saúde. A proposta é estimular micro, pequenas e médias empresas com alto potencial tecnológico, reforçando a cadeia de suprimentos do SUS e incentivando a inovação nacional.

Os aportes serão divididos entre os três parceiros: o BNDES deve investir até R$ 125 milhões; a Finep, até R$ 60 milhões; e a Fundação Butantan, pelo menos R$ 50 milhões. O foco está em soluções tecnológicas como dispositivos médicos, biofármacos e equipamentos hospitalares de alto valor agregado.

Outro destaque é o financiamento a uma empresa localizada em Aparecida de Goiânia (GO), responsável pelo fornecimento de stents farmacológicos, cateteres e balões periféricos ao SUS — itens fundamentais para procedimentos cardiovasculares. A iniciativa integra a estratégia do Ceis de fortalecer fornecedores locais de insumos críticos para o sistema público de saúde.

Lançada em janeiro, a NIB prevê que o Brasil aumente de 45% para 70% a produção nacional de medicamentos, vacinas, equipamentos e insumos médicos até 2033. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), já estão previstos R$ 57 bilhões em investimentos entre recursos públicos e privados.

Durante o evento em Minas Gerais, Lula foi enfático: “Estamos fazendo uma revolução na indústria deste país, especialmente nas áreas ligadas à saúde. Isso só é possível porque o SUS é um grande comprador de tudo que produzimos aqui”.

Entre os maiores projetos apoiados pela política industrial, destaca-se o Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde, da Fiocruz, no Rio de Janeiro. Com área equivalente a 80 campos de futebol, a nova unidade terá capacidade para produzir até 120 milhões de frascos de vacinas e biofármacos por ano, voltados majoritariamente ao SUS.

O projeto conta com R$ 2 bilhões do PAC e ainda busca captar cerca de R$ 4 bilhões adicionais de parceiros nacionais e internacionais. A instituição também está investindo em plataformas tecnológicas de ponta, como a de RNA mensageiro (mRNA), usada no desenvolvimento de vacinas contra a covid-19.

De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Complexo Econômico-Industrial da Saúde representa cerca de 10% do PIB brasileiro e mais de 30% do esforço nacional em ciência, tecnologia e inovação.

A economista Caroline Giusti, especialista em política industrial da CNI, destaca o impacto multiplicador do setor: “A cada R$ 1 milhão produzido, são gerados R$ 2,46 milhões em valor bruto da produção”.

Para a CNI, os avanços tecnológicos e o estímulo à inovação são cruciais para superar a dependência de importações e garantir a segurança sanitária nacional — lição aprendida durante a pandemia da covid-19, quando o país enfrentou dificuldades na compra de vacinas, ventiladores e EPIs.

O presidente do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), Nelson Mussolini, também defende que a política de incentivo ao setor seja permanente. “Essa cadeia produtiva gera cerca de 900 mil empregos diretos e indiretos, e precisa de segurança regulatória para se consolidar como motor de crescimento e inovação”, afirmou.

Para Mussolini, é essencial que o Complexo Econômico-Industrial da Saúde seja tratado como política de Estado, com marcos legais estáveis e mecanismos de fomento previsíveis.