Após anos de incertezas e promessas adiadas, a Petrobras enfim começa a tratar com mais objetividade a reativação da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN3), em Três Lagoas.
Durante reunião do Conselho Nacional de Fertilizantes (Confert), realizada na última terça-feira (22) em Brasília, a presidente da estatal, Magda Chambriard, colocou a unidade sul-mato-grossense no centro das estratégias da companhia para atender até 35% da demanda nacional de fertilizantes até 2028.
Com obras paralisadas desde 2015, a UFN3 passou por uma fase de reavaliação técnica e de viabilidade a partir de 2023, quando a Petrobras oficializou seu retorno ao mercado de fertilizantes dentro do Plano Estratégico 2024-2028. Agora, a empresa já projeta que a planta de Três Lagoas poderá produzir anualmente até 1,2 milhão de toneladas de ureia e 70 mil toneladas de amônia — insumos essenciais para a agricultura e a pecuária brasileiras.
A localização da unidade é um diferencial estratégico: próxima a estados como Mato Grosso, Goiás, São Paulo e Paraná — grandes consumidores de fertilizantes —, a fábrica terá papel relevante no abastecimento interno e na diminuição da dependência de importações, que hoje respondem por cerca de 85% da ureia utilizada no país.
Além da UFN3, outras três plantas estão no plano de retomada da Petrobras: a Araucária Nitrogenados (PR), a Fafen-BA e a Fafen-ES. No total, os investimentos nas quatro unidades devem alcançar R$ 900 milhões entre 2025 e 2029, com expectativa de gerar até 15 mil empregos diretos e indiretos. A estatal também firmou parceria com a Embrapa para o desenvolvimento de fertilizantes de maior eficiência e explora alternativas para ampliar o uso do gás natural como matéria-prima nesse segmento.
“A produção de fertilizantes é uma excelente oportunidade para darmos novo destino ao nosso gás e integrarmos ainda mais as cadeias de petróleo e do agronegócio”, afirmou Magda Chambriard durante o encontro, que contou também com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin.
A inclusão de novos projetos estratégicos na carteira do Confert, entre eles 14 iniciativas da Embrapa focadas em bioinsumos, reforça o cenário favorável ao setor. A demanda nacional de ureia gira em torno de 7 milhões de toneladas por ano, consumidas majoritariamente pelo cultivo de milho, cana, trigo, café e algodão, além da pecuária. Para especialistas, a reativação da UFN3 pode representar um divisor de águas na política de segurança alimentar e energética do país.
Depois de quase uma década de paralisação, o projeto em Três Lagoas finalmente parece deixar o papel e caminhar rumo à sua missão original: fortalecer a autonomia do Brasil na produção de fertilizantes.