Depois de iniciar 2025 com valores recordes, o café continua no centro das atenções do mercado. Em fevereiro, o produto acumulou a maior inflação em 12 meses desde o lançamento do real, reflexo de uma oferta restrita e de sucessivas safras prejudicadas por calor excessivo e longos períodos de seca. O cenário foi tão extremo que chegou a estimular a circulação de produtos falsificados, vendidos como café.
Para 2026, a expectativa é de algum alívio nos preços, mas sem espaço para quedas expressivas. Especialistas avaliam que, apesar das condições climáticas mais favoráveis à safra atual, os cafezais ainda não se recuperaram totalmente das perdas recentes. Segundo o pesquisador Renato Garcia Ribeiro, do Cepea, a produção segue limitada frente a uma demanda que permanece aquecida.
Os primeiros sinais de recuo já apareceram: em agosto, o preço do café caiu 0,23%, a primeira retração desde dezembro de 2023. Ainda assim, o movimento é considerado tímido e insuficiente para alterar de forma significativa o custo ao consumidor.
As previsões climáticas trazem algum otimismo para o início de 2026. De acordo com Cesar Castro Alves, gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, a fase de florada ocorre sob expectativa de chuvas, fator essencial para o bom desenvolvimento dos grãos. Se as precipitações se confirmarem no primeiro trimestre, a produção de café arábica pode crescer e ajudar a recompor os estoques globais — hoje em níveis baixos.
Mesmo com essa perspectiva, os riscos permanecem. Regiões produtoras como o Cerrado Mineiro enfrentaram geadas e atrasos no início do período chuvoso em 2025. Além disso, o café é uma cultura bienal: após um ano de colheita mais intensa, as plantas precisam de tempo para se recuperar, o que limita o volume do ciclo seguinte.
Do lado da demanda, o consumo segue firme, enquanto os estoques nacionais continuam enxutos. O Itaú BBA projeta que apenas na safra 2026/2027 a produção mundial poderá superar o consumo, com um excedente estimado em 7 milhões de sacas. Até lá, a oferta de arábica deve continuar apertada, especialmente porque a colheita começa em abril, mas o produto só chega efetivamente ao mercado a partir de setembro.
Outro fator que pressiona o mercado é o aumento das compras externas, em especial dos Estados Unidos, após o fim da tarifa de 50% sobre o café brasileiro. Com a safra atual praticamente toda comercializada, há pouca margem para atender novos pedidos.
Diante desse cenário, produtores têm ampliado investimentos no café robusta, variedade mais resistente ao calor e à seca. Embora menos valorizado que o arábica, o robusta já vem sendo usado com maior frequência em blends, ajudando a reduzir custos. No entanto, os efeitos dessa estratégia ainda levarão tempo para chegar ao consumidor, já que uma lavoura de café leva cerca de dois anos para entrar em produção.
A avaliação do mercado é clara: mesmo com sinais de melhora no horizonte, o café deve continuar caro. A combinação entre clima instável, recuperação lenta das lavouras e demanda crescente mantém os preços em um patamar elevado, sem expectativa de grandes quedas no curto prazo.
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