Após a visita à planta da UFN3 (Unidade de Fertilizantes Nitrogenados) pelo presidente da Petrobras Jean Paul Prates, o governador de MS Eduardo Riedel e a ministra de planejamento e orçamento Simone Tebet, na última sexta-feira (26), a possibilidade real para a retomada deste projeto desperta um misto de ansiedade, expectativa e dor em Três Lagoas.
Para o empresariado local, por um lado a maior expectativa será o aquecimento da economia, mas, por outro lado, há feridas ainda abertas à serem curadas.
Quando a obra foi paralisada – em 2014 – ficou um passivo de empresas endividadas e ações trabalhistas. A paralisação ocorreu, justamente, na época em que a Petrobras ficou no epicentro da operação Lava Jato, desencadeada em outro governo do presidente Lula.
O consórcio que tocava as obras, formado pela chinesa Sinopec e pela Galvão Engenharia, deixou dívidas com 134 empresas, conforme conta feita à época, com valores superiores a R$ 60 milhões, além de ignorar os direitos de centenas de trabalhadores.
Naquele período, muitos empresários quebraram ou regrediram e outros perderam a esperança de receberem os valores devidos. Protestos de trabalhadores em frente à fábrica parada foram amplamente divulgados pela imprensa.
O Ministério Público chegou a ingressar com uma ação civil pública contra a Petrobras para cobrar estes valores, o que acabou sendo rejeitado em primeiro grau e no TJMS (Tribunal de Justiça).
Com as empresas do consórcio ingressando com recuperação judicial, alguns credores acabaram aceitando negociação com valores menores. Os mais impactados foram os “menores”, como donos de vans para transportar empregados, fornecedores de alimentação e trabalhadores que faziam a vigilância do local.
Imbróglio
A construção da UFN3 começou em setembro de 2011, mas foi interrompida em dezembro de 2014, com avanço físico de cerca de 81%, depois que a Petrobras rompeu o contrato com o consórcio responsável. Na época, mais de R$ 3 bilhões já haviam sido investidos.
Em setembro de 2017, o empreendimento foi colocado à venda. A estatal justificou que não tinha mais interesse em continuar no seguimento de fertilizantes.
O grupo russo Acron manifestou interesse na compra da fábrica, mas desistiu diante do empecilho para o fornecimento do gás natural, que viria da Bolívia.
Em fevereiro de 2022, a Petrobras informou que tinha chegado a um acordo com Acron, mas que a assinatura do contrato de venda dependia ainda de tramitação na governança da empresa pública.
No dia 28 de abril de 2022, a Petrobras divulgou comunicado informando que a compra da unidade pelos russos não foi concluída “tendo em vista que o plano de negócios proposto pelo potencial comprador, em substituição ao projeto original, impossibilitou determinadas aprovações governamentais que eram necessárias para a continuidade da transação.”
Reiniciado em maio de 2022, o processo de venda chegou a ter cinco empresas interessadas. Em janeiro de 2023, a Petrobras encerrou o processo de venda, que estava na fase vinculante e divulgou que ela própria retomaria as obras.
UFN3 - Fábrica de fertilizantes nitrogenados
Depois de concluída, a UFN3 terá capacidade projetada de produção diária de ureia e amônia de 3.600 toneladas e 2.200 toneladas, respectivamente.
Segundo a Petrobras, a capacidade de produção de ureia representaria aproximadamente 20% do consumo aparente no mercado brasileiro.