Durante a 15ª sessão ordinária da Câmara Municipal de Três Lagoas, nesta terça-feira (20), o vereador Fernando Jurado voltou a fazer um duro pronunciamento contra o que classificou como um descaso com a cidade e um erro técnico e político do Governo do Estado.
O motivo: a exclusão do trecho entre Três Lagoas e Ribas do Rio Pardo do plano de duplicação da BR-262, dentro do pacote de concessão da chamada “Rota da Celulose”.

Segundo o vereador, o argumento apresentado por autoridades estaduais para justificar a ausência desse trecho no projeto é de que o fluxo de veículos seria considerado baixo.
Jurado, porém, fez questão de desmentir essa informação com dados oficiais da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
De acordo com levantamento feito por seu gabinete, entre janeiro e abril deste ano, o trecho entre Três Lagoas e Ribas registrou 75 acidentes e 8 mortes. Já o trecho que será duplicado — entre Ribas e Campo Grande — contabilizou 57 acidentes e 4 óbitos no mesmo período.
“Esses números desmontam completamente a narrativa de que o movimento de veículos não justifica a duplicação. Pelo contrário: temos um trecho mais perigoso, com mais acidentes e mais vidas perdidas, sendo ignorado. Estamos passando da condição de esquecidos para a de enganados”, protestou o vereador em plenário.
Rodovia perigosa, cenário de tragédias
A BR-262 é uma das principais artérias rodoviárias de Mato Grosso do Sul, conectando Três Lagoas à capital e, também, aos estados vizinhos. É fundamental para o escoamento de produção, transporte de cargas e mobilidade de milhares de pessoas todos os dias.
Mesmo assim, o trecho entre Três Lagoas e Ribas do Rio Pardo segue sem a devida atenção do poder público — o que, segundo Jurado, representa um risco constante à vida de motoristas, passageiros e trabalhadores do transporte rodoviário.
“Os acidentes não são números frios. São histórias interrompidas, famílias destruídas. E isso poderia estar sendo evitado com investimentos corretos, com planejamento sério, com respeito à população do Leste do Estado”, afirmou Jurado.
Além dos dados atualizados da PRF, há também farto histórico de problemas na BR-262, como trechos com asfalto deteriorado, buracos, trincas, acostamentos estreitos, sinalização precária e curvas perigosas. A situação, inclusive, já foi alvo de reportagens nacionais que alertam sobre o risco iminente de acidentes e mortes.

Trecho crítico é o mais ignorado
Relatos de motoristas e caminhoneiros que trafegam pelo trecho revelam que o problema é mais grave do que se vê nos números. Vários profissionais afirmam ter prejuízos constantes com quebra de eixo, estouramento de pneus, problemas de suspensão e risco de tombamentos — além do impacto físico pela trepidação constante em pistas onduladas. O problema se agrava em áreas sem margens de segurança, justamente no trecho criticado pelo vereador.
Além disso, a rodovia suporta um grande número de caminhões carregados de toras de eucalipto, devido a proximidade com as principais indústrias do setor instaladas no Mato Grosso do Sul, sediadas, principalmente, em Três Lagoas. Isso dificulta as ultrapassagens e irrita os motoristas, que são obrigados a trafegarem em baixa velocidade.

Mortes de animais
A rodovia também é palco de grande número de atropelamentos de animais silvestres. Somente entre maio e dezembro do ano passado, segundo o Projeto Bandeiras e Rodovias, foram 1.400 mortes de animais no trecho entre Campo Grande e a ponte do Rio Paraguai. O coordenador do projeto chegou a apelidar a BR-262 de "estrada da morte", título que, para Jurado, se encaixa perfeitamente também no trecho que liga Três Lagoas à capital.
“A alegação de que não há fluxo suficiente é uma afronta à inteligência da população de Três Lagoas. A rodovia está sobrecarregada, perigosa e cheia de armadilhas para quem precisa trabalhar, transportar e produzir. Nossos motoristas estão expostos, nossas famílias estão expostas. O governo precisa rever essa decisão com urgência”, destacou o vereador.

Trecho mais caro, porém menos contemplado
Outro dado que gera indignação diz respeito ao custo que os usuários da BR-262 terão com a concessão da Rota da Celulose. Segundo o projeto aprovado, o trecho sob concessão terá 870 km de extensão, com 12 praças de pedágio.
Para um carro de passeio, percorrer toda a rodovia custará R$ 151,06 — já considerando o deságio de 9% oferecido pelas empresas vencedoras do leilão, K-Infra e Galapagos Capital. O valor por quilômetro rodado será de R$ 0,17 — mais do que o dobro da BR-163, onde o custo médio atual é de R$ 0,08 por km.
“O trecho mais perigoso, com mais acidentes, vai continuar perigoso. E a população ainda terá que pagar caro para trafegar por ele. Isso é inaceitável”, criticou Jurado.
O vereador defende que a população cobre das autoridades estaduais e federais explicações sobre os critérios adotados para o projeto. Ele também estuda, junto a empresários locais, a formação de uma caravana para pressionar o Executivo e o Legislativo estadual em Campo Grande.
“Não vamos aceitar esse silêncio como resposta. Vamos até onde for preciso para defender a segurança e os interesses da nossa cidade”, concluiu.
