A duplicação da BR-262, que conecta Três Lagoas a Campo Grande, é considerada hoje um dos eixos mais urgentes para garantir o escoamento da produção de celulose em Mato Grosso do Sul.
A região concentra os maiores investimentos da indústria no Brasil e já é conhecida como Vale da Celulose, responsável por transformar o Estado em protagonista mundial do setor.
O crescimento acelerado exige soluções robustas. Apenas nos próximos três anos, o Estado deve praticamente dobrar sua capacidade produtiva, com acréscimo de mais de 11 milhões de toneladas de celulose.
Para dar conta dessa expansão, o plano logístico combina concessões rodoviárias, como a Rota da Celulose, e ramais ferroviários privados que ligarão diretamente as fábricas ao Porto de Santos — destino de 100% da celulose exportada por MS.

Trilhos para a competitividade
A chilena Arauco, que constrói sua fábrica em Inocência, já recebeu autorização para erguer um ramal de 47 km de trilhos até a Malha Norte, em Chapadão do Sul. O investimento, estimado em R$ 2 bilhões, garantirá que toda a operação seja ferroviária desde o primeiro dia de funcionamento da planta, prevista para 2027.
Em Três Lagoas, a Eldorado Brasil também obteve licença para um ramal de 97 km até Aparecida do Taboado, reforçando a estratégia de reduzir custos logísticos e acelerar o transporte até Santos. Suzano e Bracell, por sua vez, seguem estudando modelos semelhantes, com terminais próprios já previstos no porto paulista.

Paralelamente, o Governo de Mato Grosso do Sul prepara a entrega à iniciativa privada de trechos rodoviários considerados vitais para o setor, incluindo a BR-262, BR-267, MS-040, MS-338 e MS-395. O pacote da Rota da Celulose prevê mais de R$ 10 bilhões em investimentos ao longo de 30 anos, com duplicações, contornos urbanos, passagens de fauna e acostamentos que vão modernizar completamente a malha.
Para o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação, Jaime Verruck, a divisão de responsabilidades é clara: “O governo investe em rodovias; as indústrias, em ferrovias. Assim conseguimos equilibrar o plano logístico e garantir que o Vale da Celulose tenha competitividade global”, disse.
O boom florestal também impõe desafios fora das fábricas. Mato Grosso do Sul opera em pleno emprego (taxa de desocupação de apenas 2,9%) e precisa formar rapidamente novos profissionais.
O programa MS Qualifica busca suprir essa demanda com cursos gratuitos, parcerias com o Sistema S e universidades da Costa Leste, além de ações específicas como o Voucher Caminhoneiro, voltado para motoristas que atuarão no transporte de madeira e celulose.
Só a Arauco, por exemplo, deve abrir mais de 800 vagas para caminhoneiros nos próximos meses, enquanto a fase de construção da fábrica pode empregar até 17 mil trabalhadores temporários.

Três Lagoas como epicentro
Com Suzano, Eldorado, Bracell e, futuramente, Arauco, Três Lagoas e entorno se consolidam como o maior polo industrial de celulose do país — e um dos mais importantes do mundo.
Para o setor, a infraestrutura logística é mais que um desafio: é a chave para transformar o crescimento econômico em desenvolvimento sustentável e competitivo.