A formação ocorreu em Brasilândia (MS) com uma turma formada apenas por mulheres da etnia Ofaié. Trinta mulheres participaram da primeira edição do Empretec realizada em uma comunidade indígena. A formação ocorreu entre os dias 8 e 13 de abril na Aldeia Anodi, da etnia Ofaié, no município de Brasilândia (MS).
“A gente já fazia as peças, mas agora, com o Empretec, aprendemos muito sobre como mostrar o nosso produto, fazer o planejamento de nossas atividades”, disse Elisângela Eliandres. Ela e seu grupo foram as vencedoras de um dos desafios da formação.
“Às vezes somos discriminados com adjetivos que nem vou citar, mas eu penso que com o Empretec a gente poderá ter mais portas abertas para nós”, considera Marieli Lins (20) que vende bolos, mel e pão de mel. “Juntamos várias mulheres para unir nossos produtos e gerar renda. Eu não imaginava que eu poderia ser empreendedora”.
Os Ofaié são o menor povo indígena do MS, com apenas 128 pessoas. Na década de 1970 eles foram removidos de suas terras originárias no município de Brasilândia por pressões agrárias. A etnia, que já contabilizou 2,2 mil pessoas, chegou a ser considerada extinta por Darcy Ribeiro, contou o cacique da aldeia, Marcelo Silva.
Em 1997, os remanescentes se reuniram e ocuparam o território em que vivem atualmente. Hoje, lutam para preservar sua cultura e fortalecer sua comunidade. Na comunidade, há escola até o 5º ano fundamental, onde são ensinados, além do conteúdo regular, a cultura e os mitos do povo Ofaié.
Desde 2010, as mulheres retomaram o artesanato como elemento de união e resgate cultural. A vice-cacique Ramona Coimbra é a líder das artesãs. Ela participa de feiras e expõe os produtos do grupo. Por conta do trabalho dela, uma das toalhas de mesa produzidas pelas indígenas chegou a compor o cenário de uma novela da Rede Globo.
“Percebi que em poucos dias, todas começaram a mudar a forma de agir. Elas nunca imaginaram do que eram capazes. Com essa capacitação, viram que podem agir de forma diferente”, comentou a líder.
Divisor de águas
Para o gerente de Soluções do Sebrae, Eduardo Curado, o Empretec é um divisor de águas. “O Empretec ajuda as pessoas a se conhecerem e a se desenvolverem, primeiro como ser humano, depois como empreendedor”.
O gerente, que já fez a formação, lembra que é um período intenso de atividades. Para ele, vivenciar a formação das primeiras indígenas empretecas foi emocionante.
“Às vezes a gente fica ali sentado atrás de um computador, pensando em um monte de programas nacionais, estaduais e municipais, mas fica distante. Estar aqui e vivenciar aquilo que a gente sonha, muitas vezes olhando pra uma tela, é realmente uma coisa que não tem preço”, disse.
O Empretec é uma metodologia desenvolvida pela ONU. No Brasil, o Sebrae é responsável pela aplicação do curso. O país é responsável por 70% das formações do método no mundo. Em 2023, o Sebrae adaptou o método para a aplicação em ambiente rural.
Agora o Empretec em comunidades indígenas deve ser ampliado. Na manhã desta sexta-feira (12), o Sebrae firmou um convênio com o governo do estado de Mato Grosso do Sul para levar a metodologia para mais comunidades indígenas.
“Todos sabemos que o conceito da sustentabilidade, dentro do processo econômico, permite renda, permite acesso à dignidade para os povos indígenas. É para levar este paradigma que o Sebrae e o Governo do Estado assinam esse termo. Estamos modificando a vida das pessoas para dar dignidade pelo empreendedorismo”, afirmou o presidente do Sebrae Nacional, Décio Lima.
O Mato Grosso do Sul é o terceiro estado em número de indígenas no Brasil, são 10 etnias com uma população estimada em 116 mil pessoas.