Com o objetivo de incentivar diálogos mais profundos e de qualidade à beira do leito de pacientes idosos, a Técnica em Enfermagem Walkiria Nascimento Valadares De Campos da Unidade de Clínica Médica do Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD), da Rede Ebserh, desenvolveu um jogo de cartas educativo a partir da técnica conhecida como “Caixa puxa-conversa”. Esse produto educacional surgiu como parte de seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Educação em Saúde da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (PPGES), sob orientação da Profª Drª Marcia Maria de Medeiros.
A ideia de criar um jogo de cartas para estimular conversas entre os idosos hospitalizados e seus acompanhantes veio da observação da prática diária no HU-UFGD. Walkiria notou a dificuldade que muitos familiares e cuidadores tinham em dialogar com os pacientes, muitas vezes sem conhecer detalhes básicos sobre a vida e as preferências daqueles que estavam no leito.
"A percepção de certo grau de dificuldade em dialogar e em alguns casos pouco conhecimento sobre aquele “indivíduo” no leito, sobre questões muitas vezes básicas do convívio como, seus gostos, alegrias, experiências, pudores, tristeza e expectativas - mesmo sendo filho(a), esposa(o), irmã(o), cuidador(a) formal e amigos. Assim, surgiu o insight para a proposição de um produto educativo disparador de conversas direcionadas e produtivas à beira leito", explica Walkiria.
A "Caixa puxa-conversa" foi pensada para abordar temas relacionados ao envelhecimento humano e à qualidade de vida, incentivando reflexões profundas sobre a experiência de envelhecer. As cartas, que podem ser usadas de forma individual ou coletiva, contêm perguntas abertas que abrangem aspectos da vida física, emocional, profissional, espiritual e outros, buscando gerar diálogos significativos.
“O enfoque do material é tornar-se um disparador para o início de conversas através de perguntas norteadoras e da Escuta Ativa (processo que vai muito além de simplesmente ouvir as palavras de alguém) com a finalidade educacional, orientando-os para a sua autovalorização, o reconhecimento dos seus saberes e valores por meio da sensibilização, da educação, da formação do senso crítico direcionando-os a autorreflexão sobre o envelhecimento humano e qualidade de vida”, destaca.
O jogo de cartas já foi aplicado entre os profissionais da Clínica Médica do HU-UFGD/Ebserh, gerando discussões valiosas sobre o processo de envelhecimento e a qualidade de vida, tanto pessoal quanto dos pacientes. "O produto alcançou, no primeiro momento, a equipe de enfermagem, a partir da reflexão sobre seu próprio processo de envelhecimento e qualidade de vida para uma boa velhice", comenta Walkiria.
Atualmente, a caixa está em fase de protótipo, com 179 cartões impressos. Dez unidades foram distribuídas para apresentação na banca examinadora do mestrado, sendo uma entregue à Gerência de Ensino e Pesquisa (GEP) do HU-UFGD/Ebserh. A ideia é que, em breve, seja possível ampliar a produção do jogo, a fim de beneficiar mais pacientes e acompanhantes, bem como outras unidades da rede Ebserh.
O próximo passo é a aplicação prática do jogo com pacientes que se enquadrem no perfil proposto. "Não foi aplicada diretamente devido a apresentação da banca dia 12 de agosto e minha saída do setor para férias", afirma.
Ela também acredita que a "Caixa puxa-conversa" pode ajudar os acompanhantes a desenvolverem maior compreensão sobre a vida e os desafios dos idosos hospitalizados. "Este produto educacional foi apenas um 'puxar de fio' de um grande novelo denominado 'Envelhecimento Humano', e pode, a curto prazo, potencializar a permanência à beira leito dos acompanhantes, proporcionar uma melhor compreensão do modo de agir e reagir a determinadas situações", completa.
O feedback inicial dos profissionais da saúde foi positivo, o que abre espaço para uma visão mais abrangente sobre o impacto das experiências de vida dos pacientes. "Ouvir esses participantes possibilitou a expansão do entendimento de que as pessoas são atravessadas pelas circunstâncias de suas vidas", reflete Walkiria. Entre as situações que mais sensibilizam os envolvidos, estão as iniquidades sociais e de saúde, como a fome, violência, preconceito e outros fatores que muitas vezes são "potentes trituradores de pessoas" e afetam drasticamente suas vidas e famílias.
Com a iniciativa, Walkiria espera contribuir para um ambiente hospitalar mais acolhedor e sensível, onde o diálogo e a escuta ativa possam ajudar a melhorar a qualidade de vida dos idosos durante a internação.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.