A maturidade afetiva não nasce pronta, tampouco se aprende por um manual. Ela se constrói nas vivências, nos encontros e nas pausas. Surge quando entendemos que estar com alguém não é sobre suprir uma ausência, mas sobre partilhar uma presença. É quando a escolha se sobrepõe à carência. Eu não dependo do outro, mas escolho estar com o outro. E essa escolha exige coragem, consciência e escuta verdadeira.
Em muitos atendimentos terapêuticos, percebo que uma mesma dor aparece em diferentes formas: a dificuldade de se entregar a um vínculo, o medo de perder o próprio eixo na presença do outro, a confusão entre carência e escolha, o impulso de controlar o tempo e os sentimentos. É como se estivéssemos todos — em alguma medida — aprendendo a amar sem nos abandonar.
O encontro com o amor maduro costuma desestabilizar — e, ao mesmo tempo, libertar. Porque ele não vem da necessidade, vem da inteireza. Ele não se agarra, mas acolhe. Não exige garantias, mas convida à construção. Amar com maturidade é compreender que estar ao lado de alguém é também entrar em contato com o continente interno do outro: suas histórias, seus medos, seus padrões, que foram se moldando ao longo do tempo.
Muitas vezes, esses padrões emocionais não foram vistos com a atenção que mereciam. E aí, o que poderia ser entrega vira defesa. O que poderia ser leveza vira dúvida. Nem sempre o outro consegue sustentar o vínculo que deseja — não por falta de afeto, mas por falta de estrutura emocional para lidar com o que é novo e saudável.
E é nesse ponto que o processo terapêutico se torna um caminho sagrado. Um espaço de escuta, de cuidado, de ressignificação. Ele nos ajuda a enxergar com mais clareza a origem dos nossos vínculos, as raízes das nossas escolhas, o porquê de certos encontros nos tocarem tanto — e, às vezes, nos doerem tanto. Porque nem sempre conseguimos oferecer ao outro aquilo que nunca recebemos ou aprendemos. E isso não é sobre culpa — é sobre consciência.
A maturidade afetiva começa quando temos coragem de olhar para essas dinâmicas sem apontar culpados, reconhecendo que o outro também carrega marcas, histórias e defesas. E mesmo assim, escolhemos. Escolhemos com o coração, mas nos cuidamos com a alma. Porque o amor maduro não é ausência de conflito — é presença consciente no processo. É poder dizer: “Eu não dependo de você, mas escolho estar com você.” E antes disso, escolho estar comigo.
Às vezes, mesmo com carinho, com entrega, com vontade... o outro ainda não está pronto. E amar com maturidade é também saber acolher esse limite — e não se perder nele. É entender que o afeto não precisa ser provado por insistência, mas reconhecido na reciprocidade.
Maturidade afetiva é também perceber quando a relação já não sustenta mais o espaço da verdade. É, mesmo diante do afeto que existe, fazer o movimento de se recolher. É seguir o próprio fluxo com integridade, mesmo com saudade. É silenciar para ouvir a si mesma. É não aceitar pouco, mesmo que o coração ainda pulse. É compreender que amar o outro não pode significar abandonar a si.
É nesse ponto do caminho que muitas almas despertam para a necessidade de olhar para dentro. De entender seus próprios padrões, seus medos, suas repetições. Não como quem se culpa, mas como quem se liberta. Porque maturidade afetiva é isso: permanecer fiel à própria luz, mesmo quando a presença do outro se apaga no caminho.
E quando mergulhamos com honestidade nesse processo, passamos a dançar com mais consciência os movimentos da vida. Essa dança se revela não só nos relacionamentos amorosos, mas em todas as relações: com amigos, com o trabalho, com a família, com o próprio corpo, com o tempo.
Por isso, se esse texto tocou algo em você, e seu coração sentir o chamado de se aprofundar, de compreender, de cuidar da sua história interna com mais presença, saiba: acolher-se é o primeiro passo para se relacionar com mais verdade. E eu estou aqui, disponível, para acolher você nesse processo.
Sua jornada não precisa ser solitária!
O meu coração, saúda o seu coração!
Com afeto e gratidão!