O agravamento da crise entre Irã e Israel nas últimas semanas acendeu o sinal de alerta no setor agropecuário de Mato Grosso do Sul. Especialistas e autoridades do Estado apontam que o impacto mais imediato da instabilidade geopolítica será sentido no bolso dos produtores: alta nos preços dos fertilizantes, combustíveis e custos logísticos.
A preocupação central gira em torno da ureia, insumo essencial para o plantio, cuja escassez pode se agravar. O Irã, um dos maiores exportadores mundiais do produto, é fornecedor importante para o Brasil. Com a escalada do conflito, a oferta iraniana pode ser comprometida, pressionando os preços no mercado internacional.
“Com a limitação do fornecimento pelo Irã, o Brasil terá de buscar alternativas mais caras. Isso deve impactar diretamente o custo de produção nas lavouras de MS”, explica Jaime Verruck, secretário de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação.
Ele destaca ainda que o cenário evidencia a importância estratégica da ativação da UFN3 — unidade de fertilizantes nitrogenados localizada em Três Lagoas, que permanece inativa. “A UFN3 poderia reduzir significativamente nossa dependência externa por insumos essenciais, como a ureia”, reforça.
Além dos fertilizantes, o petróleo também entrou na mira dos especialistas. A possibilidade de o conflito afetar o Estreito de Ormuz — rota por onde passa cerca de 20% do petróleo global — preocupa mercados e autoridades. O preço do barril já começou a subir, ultrapassando 4% de alta nos últimos dias.
“Se o fornecimento global for comprometido, o Brasil sentirá os efeitos rapidamente, com aumento no valor do diesel e derivados”, alerta Verruck. “Apesar de o impacto ainda ser incerto, ele não pode ser ignorado.”
Para o economista Michel Constantino, o aumento do petróleo gera um efeito em cascata. “Não é apenas o combustível que sobe. Há reflexos no transporte, nos insumos e na produção de alimentos. O resultado pode ser uma nova pressão inflacionária”, pontua.
Ele acrescenta que o cenário brasileiro torna-se ainda mais delicado com a alta de tributos promovida recentemente pelo governo federal, o que pode agravar o custo final ao consumidor e ao produtor.
O analista de comércio exterior Aldo Barrigosse reforça que o setor agroexportador também deve se preparar para elevações nos custos logísticos. “Navios mais caros e rotas instáveis encarecem o escoamento da produção. Isso se reflete diretamente no preço dos alimentos e na competitividade do produtor rural”, explica.
Ele avalia, porém, que os efeitos diretos sobre as exportações de Mato Grosso do Sul para Israel — um dos países envolvidos no conflito — serão limitados. “Israel ocupa uma posição modesta entre os destinos das exportações do Estado, como carne bovina e celulose. O maior risco está no encarecimento de todo o processo logístico global.”
Já o economista Eugênio Pavão lembra que o Brasil, como país altamente dependente do transporte rodoviário, é especialmente vulnerável a variações no preço do combustível. “A extensão dos danos dependerá da duração do conflito e da entrada de outros países nas hostilidades. Se for prolongado, teremos impactos duradouros”, analisa.
Enquanto o conflito se intensifica no Oriente Médio, Mato Grosso do Sul observa atentamente os desdobramentos e seus reflexos no campo. A guerra pode parecer distante geograficamente, mas seus efeitos são sentidos de forma concreta no custo da produção rural, na logística, e, possivelmente, no bolso do consumidor.
A expectativa do setor é que medidas nacionais — como a retomada da UFN3 e maior estímulo à produção nacional de fertilizantes — ganhem força diante desse novo contexto internacional.
Impactos da Guerra no Oriente Médio para o Agronegócio de MS
🔴 1. Fertilizantes mais caros
- O Irã é um dos principais fornecedores de ureia para o Brasil.
- Conflito pode restringir exportações e elevar os preços.
- Falta de insumo afeta diretamente a produção agrícola sul-mato-grossense.
⚠️ 2. UFN3 ganha importância estratégica
- Unidade de fertilizantes em Três Lagoas permanece inativa.
- Produção local poderia reduzir dependência externa.
⛽ 3. Alta no petróleo pode encarecer diesel
- Tensão no Estreito de Ormuz pressiona o mercado global.
- Preço do barril já subiu mais de 4%.
- Transporte e produção agrícola devem ser afetados.
📈 4. Pressão inflacionária
- Insumos, combustíveis e logística mais caros aumentam os custos do agronegócio.
- Produtos podem chegar mais caros ao consumidor final.
🚚 5. Logística sob risco
- Exportações podem ser impactadas por fretes mais caros e instabilidade internacional.
- Custo para escoar a produção tende a subir.
🟡 6. Efeitos dependerão da duração do conflito
- Se a guerra se prolongar ou envolver novas nações, os impactos serão mais profundos e duradouros.