O presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado, Nelsinho Trad (PSD-MS), acionou o Governo Federal e convocou uma reunião extraordinária para a próxima terça-feira (15), com o objetivo de discutir a nova tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. A medida, anunciada pelo presidente norte-americano Donald Trump, entra em vigor no dia 1º de agosto e acendeu o sinal de alerta na diplomacia brasileira.
A reunião envolverá representantes do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Segundo Trad, é preciso agir com firmeza, mas priorizando o caminho diplomático. “Estancar essa crise é promover a diplomacia para tentar resolver essa situação. Propus uma missão oficial aos EUA, pois esse é o caminho mais sensato a ser buscado neste momento”, afirmou o senador sul-mato-grossense.
Trump justificou a retaliação alegando, sem apresentar provas, que o Brasil estaria promovendo censura contra plataformas norte-americanas de mídia social. Em nota divulgada nas redes, o ex-presidente dos EUA também criticou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Brasil, mencionando o Supremo Tribunal Federal como agente de perseguição política.
Diante da escalada da tensão, o presidente Lula (PT) reagiu com firmeza. Em entrevista recente, afirmou que o Brasil não aceitará interferências externas e que adotará medidas com base na Lei da Reciprocidade Econômica. A legislação, aprovada em abril pelo Congresso Nacional, permite ao país responder proporcionalmente a sanções econômicas. A senadora Tereza Cristina (PP-MS) foi relatora do projeto, que agora ganha protagonismo.
Impacto em Mato Grosso do Sul deve ser limitado
Apesar da gravidade do impasse, a economia de Mato Grosso do Sul não deve sofrer impactos expressivos com a nova tarifa, segundo análise da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc). De acordo com o relatório Comex de junho, os Estados Unidos representaram apenas 5,97% das exportações do Estado no primeiro semestre de 2025 — aproximadamente US$ 315 milhões de um total de US$ 5,28 bilhões exportados.
A China continua sendo o principal parceiro comercial de MS, com 47% de participação nas exportações estaduais, somando US$ 2,4 bilhões no período. Ainda assim, os EUA figuram como o segundo maior comprador de produtos sul-mato-grossenses, especialmente no setor de carne bovina e papel e celulose.
Clima de incerteza nas relações Brasil-EUA
A decisão de Trump de adotar medidas unilaterais contra países com os quais mantém atritos diplomáticos — chamada por ele de “Dia da Libertação” — já impactou sete nações, sendo o Brasil o mais atingido pelo percentual. O anúncio gerou uma divisão no Congresso brasileiro: enquanto setores governistas apontam interferência política de aliados de Bolsonaro, a oposição responsabiliza o presidente Lula pelo enfraquecimento das relações com Washington.
Agora, caberá ao Itamaraty e ao Congresso Nacional encontrarem soluções viáveis para contornar o impasse, proteger os interesses comerciais do país e preservar a estabilidade diplomática com a maior economia do mundo.
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