As tensões comerciais entre Estados Unidos e China continuam escalando, e isso pode abrir caminho para novos mercados ao agronegócio brasileiro, especialmente para Mato Grosso do Sul. Com as novas tarifas impostas pelos norte-americanos sobre importações chinesas, Pequim respondeu elevando taxas sobre produtos agrícolas dos EUA, o que deve redirecionar suas compras para outros fornecedores, incluindo o Brasil.
A sobretaxa de 10% a 15% sobre commodities norte-americanas, anunciada pelo governo chinês, amplia as chances de Mato Grosso do Sul exportar mais carne bovina, suína e soja para o país asiático, um dos principais consumidores desses produtos no mundo.
O especialista em comércio exterior Aldo Barrigosse avalia que esse cenário pode ser positivo para os produtores sul-mato-grossenses. "A imposição de tarifas sobre a produção dos EUA torna Mato Grosso do Sul um competidor mais forte no fornecimento de itens essenciais para o mercado chinês", explica.
Diante das novas barreiras tarifárias, a China já movimenta suas estratégias comerciais, aumentando a importação de carne, laticínios e grãos de países da América do Sul, Europa e Pacífico. O analista sênior de proteína animal do Rabobank, Pan Chenjun, aponta que haverá uma mudança significativa no fluxo de comércio internacional, favorecendo exportadores alternativos.
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços revelam que a China já é o maior destino das exportações de Mato Grosso do Sul, absorvendo quase metade dos produtos enviados pelo estado ao exterior. Em 2024, as vendas para o país asiático somaram US$ 3,011 bilhões, um aumento de 24% em relação ao ano anterior.
Além do impacto direto no comércio agrícola, a guerra tarifária reacende discussões sobre rotas logísticas. A Rota Bioceânica, que ligará o Atlântico ao Pacífico, pode se tornar ainda mais estratégica para escoamento da produção sul-americana, especialmente com as incertezas envolvendo o Canal do Panamá.
A política comercial norte-americana tem gerado atritos sobre a influência chinesa na hidrovia panamenha, o que pode impulsionar alternativas como a nova rota rodoviária. "Com o Canal do Panamá enfrentando desafios e custos elevados, a Rota Bioceânica se torna uma solução viável para o comércio internacional, especialmente para a exportação de proteína animal e grãos", avalia o economista Michel Constantino.
A expectativa é que o agronegócio sul-mato-grossense aproveite essa janela de oportunidade para ampliar seus mercados e consolidar sua posição como fornecedor global de commodities.