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MS preserva apenas 25% do Cerrado e está entre os estados que menos conservam o bioma

Foto: reprodução/Imasul
Rogério Potinatti
1/10/2025
às
9:30

Mato Grosso do Sul tem hoje somente 25% de sua área de Cerrado coberta por vegetação nativa, segundo levantamento do MapBiomas divulgado nesta quarta-feira (1º). O dado coloca o Estado entre os que menos preservam o bioma no Brasil, acendendo um alerta sobre os desafios ambientais da região.

Há 40 anos, o território sul-mato-grossense contava com 10,7 milhões de hectares de vegetação nativa. Atualmente, restam 5,5 milhões, ou seja, uma perda de 5,2 milhões de hectares no período — quase metade da cobertura original. Nesse mesmo intervalo, a área ocupada por pastagens cresceu de 36% para 44% do bioma no Estado.

De acordo com o estudo, o avanço da agropecuária foi o principal responsável pela transformação da paisagem. “O Cerrado vem sendo transformado em ritmo acelerado nas últimas quatro décadas. A agricultura se expandiu e se intensificou, consolidando a região como central na produção de grãos do país”, explica Bárbara Costa, analista do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e integrante da equipe do Cerrado no MapBiomas.

reprodução

O cenário em Mato Grosso do Sul reflete a tendência nacional. Entre 1985 e 2024, o Cerrado perdeu 40,5 milhões de hectares de vegetação nativa, o equivalente a 28% de sua cobertura original — área 1,4 vez maior que todo o estado da Bahia. Hoje, 47,9% do bioma já está ocupado por atividades humanas, e apenas 51,2% ainda resistem com cobertura nativa.

A agricultura foi a atividade que mais avançou nesse período, com expansão de 533% desde 1985. Só a soja, que ocupa quase metade de sua área cultivada dentro do Cerrado, responde por 21,6 milhões de hectares de lavouras temporárias, o que a coloca como protagonista da pressão sobre o bioma.

A formação savânica foi a mais impactada, com perda de 32% em quatro décadas. Além da vegetação, os recursos hídricos também sofreram: a superfície de água natural encolheu 27,8% em 40 anos, mesmo com a expansão de hidrelétricas e reservatórios.

O levantamento também destacou os espaços onde a preservação ainda resiste. Territórios indígenas (97%), áreas militares (95%) e unidades de conservação (94%) mantêm os maiores percentuais de cobertura nativa. Em contrapartida, imóveis rurais (45%), áreas sem registro fundiário (49%) e áreas urbanas (7%) apresentam os menores índices.

Para a diretora de ciência do Ipam, Ane Alencar, o desafio está em conciliar produção e conservação. “Mais da metade do bioma está em imóveis rurais. Por isso, é fundamental investir em políticas públicas e incentivos que unam produção agrícola, preservação e recuperação da vegetação nativa. Só assim será possível garantir a segurança hídrica, alimentar e climática do Brasil”, concluiu.