O primeiro semestre de 2025 escancarou um cenário alarmante para as mulheres de Mato Grosso do Sul.
O Estado contabilizou mais de 12 mil denúncias de violência doméstica em apenas sete meses — uma média de 58 casos por dia. Ao longo do período, 20 mulheres foram mortas simplesmente por serem mulheres, vítimas de feminicídio.
De acordo com dados do Monitor da Violência Contra a Mulher, a cada duas horas, uma mulher é agredida dentro de casa, geralmente por companheiros ou ex-companheiros. Em 40 mil casos, o agressor era o próprio cônjuge.
A estatística de feminicídios é ainda mais preocupante: uma mulher foi assassinada a cada nove dias em Mato Grosso do Sul. As histórias são marcadas por brutalidade e mostram o desafio das autoridades em prevenir crimes motivados por controle, ciúme ou inconformismo com o fim de relacionamentos.
A delegada Fernanda Piovano, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), aponta que o maior desafio enfrentado pela rede de proteção é romper o ciclo de violência.
"O medo, a vergonha e a dependência emocional ou financeira ainda impedem muitas mulheres de darem continuidade às denúncias", explica. Segundo ela, o trabalho da Deam vai além da proteção imediata, buscando fortalecer e empoderar essas mulheres para que consigam sair de relações abusivas.


Casos que chocaram o Estado
Entre os 20 feminicídios registrados em 2025, estão casos de grande repercussão.
Em Ribas do Rio Pardo, a professora Cinira de Brito, de 44 anos, foi morta com facadas pelo ex-marido.
Em Campo Grande, Vanessa Eugênio e sua filha bebê, Sophie, foram assassinadas e tiveram os corpos queimados.
Em Caarapó, Karina Corim foi baleada dentro da loja onde trabalhava. Todos esses crimes têm em comum o fato de terem sido cometidos por ex-companheiros inconformados com o fim do relacionamento.

Vítimas de feminicídio em MS (2025)
- Karina Corim (Caarapó)
- Vanessa Ricarte (Campo Grande)
- Juliana Domingues (Dourados)
- Mirielle dos Santos (Água Clara)
- Emiliana Mendes (Juti)
- Gisele Cristina Oliskowiski (Campo Grande)
- Alessandra da Silva Arruda (Nioaque)
- Ivone Barbosa (Sidrolândia)
- Thácia Paula (Cassilândia)
- Simone da Silva (Itaquiraí)
- Olizandra Vera Cano (Coronel Sapucaí)
- Graciane de Sousa Silva (Angélica)
- Vanessa Eugênio Medeiros (Campo Grande)
- Sophie Eugenia Borges (Campo Grande)
- Eliana Guanes (Corumbá)
- Doralice da Silva (Maracaju)
- Rose (Costa Rica)
- Michely Rios Midon Orue (Glória de Dourados)
- Juliete Vieira (Naviraí)
- Cinira de Brito (Ribas do Rio Pardo)
Onde buscar ajuda
As mulheres que enfrentam violência podem procurar apoio na Casa da Mulher Brasileira, localizada na Rua Brasília, s/n – Jardim Imá, em Campo Grande. O local funciona 24 horas por dia e concentra diversos serviços: Deam, Defensoria Pública, Ministério Público, Vara de Medidas Protetivas, assistência social, alojamento, brinquedoteca, Patrulha Maria da Penha e Guarda Municipal.
Canais de atendimento:
- Disque 180 – atendimento nacional e anônimo, 24h por dia
- Disque 190 – para emergências
- WhatsApp Promuse – (67) 99180-0542
A rede também conta com Delegacias de Atendimento à Mulher em 12 cidades do interior: Aquidauana, Bataguassu, Corumbá, Coxim, Dourados, Fátima do Sul, Jardim, Naviraí, Nova Andradina, Paranaíba, Ponta Porã e Três Lagoas.
Casos de negligência por parte da Polícia Civil podem ser denunciados à Corregedoria, pelo telefone (67) 3314-1896, ou ao GACEP (MPMS), pelos números (67) 3316-2836, 3316-2837 e 9321-3931.
A violência contra a mulher é um problema coletivo. Denunciar pode salvar vidas.