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O desafio da conduta ética no jornalismo em tempos de compliance

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Rogério Potinatti
7/2/2025
às
7:30

O jornalismo sempre esteve atrelado a princípios éticos fundamentais para sua credibilidade. Contudo, em um mundo cada vez mais regido por normas de compliance, os jornalistas precisam estar ainda mais atentos às condutas que podem comprometer suas trajetórias profissionais.

Exemplos recentes de demissões controversas mostram que, independentemente da trajetória ou do prestígio, a falta de cuidado pode resultar em cortes definitivos no mercado.

Rodrigo Bocardi é o mais recente nome a engrossar a lista de jornalistas dispensados sob a justificativa de descumprimento de normas éticas. A TV Globo não detalhou quais foram as infrações, mas a demissão serve como um alerta para os profissionais que atuam em grandes conglomerados midiáticos, onde as regras de conduta são cada vez mais rígidas.

História semelhante aconteceu há 18 anos com Ricardo Boechat, que, ainda em vida, perdeu espaço em O Globo e no Bom Dia Brasil após um escândalo envolvendo o vazamento de informações privilegiadas a um assessor empresarial. A revelação feita pela revista Veja mostrou que a interferência de interesses corporativos na apuração jornalística pode custar caro, mesmo a um profissional renomado.

William Waack foi outro caso emblemático. Em 2017, um vídeo de bastidor que circulou nas redes sociais mostrou o jornalista fazendo um comentário considerado racista, o que resultou em seu desligamento da emissora. Ainda que tenha retomado sua carreira na CNN Brasil, Waack viu sua reputação ser fortemente impactada pelo episódio.

Dony De Nuccio optou por se desligar da TV Globo em 2019, após a revelação de que havia recebido quantias milionárias por serviços de comunicação para um banco. A emissora proíbe que seus jornalistas atuem paralelamente para empresas privadas que possam gerar conflitos de interesse. De Nuccio alegou que não tinha intenção de burlar regras, mas preferiu sair. Hoje, segue atuando como comunicador digital e empreendedor.

Casos mais recentes, como os de Manoel Soares e Cecília Flesch, mostram como a dinâmica do mercado também pode penalizar jornalistas que se envolvem em polêmicas internas. Enquanto Manoel Soares enfrentou um desgaste público devido a especulações sobre seu relacionamento profissional com Patrícia Poeta, Cecília foi desligada após criticar a linha editorial da GloboNews em uma entrevista para um podcast. Ambos migraram para o ambiente digital, que tem sido uma alternativa para jornalistas que se afastam da grande imprensa.

O caso de Izabella Camargo é um alerta para questões de saúde mental no jornalismo. Diagnosticada com a Síndrome de Burnout, ela foi demitida ao retornar de uma licença médica. Conseguiu reverter a demissão na Justiça, mas optou por sair definitivamente devido ao clima na redação. Hoje, se dedica a divulgar conteúdos sobre esgotamento profissional.

Outro exemplo notável é o de Christiane Pelajo, que ganhou notoriedade por episódios de desentendimentos ao vivo com técnicos de som e vídeo enquanto estava na GloboNews. O desgaste evidente com a mior emissora de TV do País contribuiu para sua saída. Atualmente, ela segue como âncora do recém-inaugurado canal CNBC Brasil, demonstrando que, mesmo após turbulências na carreira, é possível se reinventar e continuar no mercado.

Todos esses casos reforçam um ponto crucial: jornalistas precisam se adaptar a um mercado onde a transparência, o cumprimento de regras e a conduta ética são cobrados com mais rigor do que nunca.

Empresas de comunicação estão cada vez mais comprometidas com políticas de compliance, e qualquer deslize pode significar o fim de uma carreira em grandes redações.

Diante desse cenário, profissionais da área devem ser ainda mais criteriosos com seus atos, tanto dentro quanto fora do expediente.

Evitar conflitos de interesse, manter a isenção e compreender que a ética jornalística é um ativo indispensável – e inegociável – são medidas essenciais para quem deseja manter sua credibilidade e relevância no mercado. Afinal, a imprensa vive de reputação, e qualquer fissura nessa base, quase sempre é irreversível.

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Por: Rogério Potinatti

Jornalista profissional | MTB: 50.151/SP

Instagram: @rgpotinatti