Tem dias em que a vida parece nos chamar para um olhar mais sincero sobre como nos relacionamos. Não só com os outros, mas também com nós mesmos. E, nesse olhar, uma imagem me veio com força: tijolos e correntes.
Tijolos são feitos para erguer. Eles sustentam, dão forma, protegem. Tijolos constroem casas, pontes, caminhos. Correntes, por outro lado, têm outra função, elas prendem, imobilizam, limitam. E, ainda assim, muitas vezes, confundimos esses dois elementos dentro das nossas relações.
Mas antes mesmo de pensar em levantar paredes, é preciso olhar para a fundação, a base. É ali, no início de tudo, que os combinados são feitos, as expectativas são alinhadas, e as intenções são colocadas sobre a mesa. Essa etapa é muitas vezes negligenciada, especialmente quando o coração quer acelerar o processo. Porém, uma fundação mal feita cobra seu preço com o tempo.
E aqui, vale um lembrete importante: ninguém muda ninguém. Não se inicia um projeto esperando que, ao longo do caminho, o outro vá se encaixar no que nos agrada. Essa ideia, que tantas vezes está presente, principalmente em nós mulheres, de que vamos “ajeitar” aquilo que incomoda, acaba sendo uma fonte de frustração. As pessoas são quem são. E a aceitação do outro como ele é, com suas potências e limites é o primeiro sinal de maturidade relacional.
Na terapia, é comum que essa dor apareça: a de ter sido aprisionado, ou a de perceber que se tentou segurar o outro com correntes emocionais. E a verdade é que nenhuma das duas posições é confortável. Ambos os lados adoecem.
Amar não é prender. Amar é oferecer tijolos. É olhar para o outro e dizer: “aqui está a minha parte, vamos construir algo?” É permitir que o outro traga os seus próprios tijolos, à sua maneira, no seu tempo. Porque o que é construído junto se sustenta. O que é aprisionado, uma hora escapa, machuca ou sufoca.
Hoje, deixo esse convite: que tipo de relação você cultiva? Você oferece tijolos ou tenta manter tudo junto com correntes? Está construindo ou tentando controlar?
Talvez seja o momento de soltar um pouco. Não como quem desiste, mas como quem confia. O que é verdadeiro permanece. E o que precisa partir, abre espaço para algo mais verdadeiro ainda surgir.
Aceitar o outro como é, sem querer mudar, dando o seu melhor e cuidar da base. Essa é a arte de construir com amor, e não com prisão.