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Pressão contra tarifa de Trump cresce nos EUA após visita de senadores brasileiros

Foto: cedida
Rogério Potinatti
1/8/2025
às
7:40

A visita oficial de uma comitiva de senadores brasileiros a Washington, liderada por Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE), surtiu efeito: parlamentares norte-americanos intensificaram esforços para barrar o tarifaço de 50% anunciado pelo ex-presidente Donald Trump sobre produtos brasileiros.

Nesta quinta-feira (31), senadores democratas anunciaram que apresentarão uma proposta com tramitação prioritária para tentar derrubar a medida ainda no Senado. Paralelamente, tribunais federais dos EUA analisam se houve abuso de poder por parte do governo Trump ao acionar a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA), sob justificativa de que o Supremo Tribunal Federal brasileiro representaria ameaça à segurança nacional — tese considerada frágil e sem precedente por juristas americanos.

Os senadores Jeanne Shaheen, Tim Kaine, Chuck Schumer e Ron Wyden, em nota conjunta, classificaram a tarifa como uma tentativa política de interferir nos processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo eles, trata-se de uma retaliação “improcedente” que compromete relações comerciais e diplomáticas.

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Mobilização no Congresso americano

A medida de Trump já havia sido alvo de votações anteriores no Senado, com resultados divididos. Em abril, por exemplo, uma resolução que buscava derrubar tarifas sobre o Canadá foi aprovada, mas travada na Câmara dos Representantes. Outra tentativa de revogar tarifas recíprocas empatou e não avançou.

Agora, parlamentares tentam aproveitar a pressão pública e diplomática para mobilizar votos. Além disso, o deputado Gregory Meeks, influente membro do Comitê de Relações Exteriores da Câmara, prometeu apresentar uma resolução contra o tarifaço. Já a deputada Sydney Kamlager-Dove defendeu o adiamento da medida, destacando os riscos para trabalhadores e empresas norte-americanas.

Durante a missão brasileira, a comitiva foi recebida por nomes como Martin Heinrich, Chris Coons, Mark Kelly, Michael Bennett, Ed Markey e Thom Tillis, que expressaram preocupação com os efeitos da tarifa sobre a economia dos EUA.

Setores alertam: tarifa pode comprometer energia e encarecer alimentos

Entre os produtos afetados pela medida estão carnes, madeiras, transformadores, café e produtos da construção civil. Os transformadores, em especial, geram alarme: empresários alertam que, sem os equipamentos brasileiros até 2027, pode haver risco de colapso no fornecimento de energia — um cenário crítico em meio à expansão da infraestrutura elétrica e tecnológica dos EUA.

“Se os transformadores do Brasil não forem entregues, apaga a luz”, alertaram representantes de grandes corporações durante encontro com os senadores brasileiros no escritório da Americas Society/Council of the Americas (AS/COA). Em 2024, os EUA importaram US$ 541 milhões desses equipamentos do Brasil — 82% das exportações brasileiras do setor foram para o mercado norte-americano.

Outro impacto direto já percebido é o aumento do preço da carne moída, que subiu 15% desde o anúncio da tarifa. “Precisamos da carne magra do Brasil para moer com a gorda dos EUA”, afirmou um representante do setor alimentício.

Reuniões com grandes empresas e articulação política

Gigantes como Amazon, ExxonMobil, PepsiCo, Mars e Lockheed Martin participaram das reuniões e manifestaram preocupação com a insegurança jurídica gerada pela medida, que afeta diversas cadeias produtivas.

De volta ao Brasil, Nelsinho Trad anunciou que já na segunda-feira (4/08) haverá uma reunião com membros do Executivo brasileiro para relatar os diálogos mantidos nos EUA e propor caminhos diplomáticos. “É só o começo de uma articulação suprapartidária em defesa do Brasil”, afirmou.

Embora itens como celulose, papel e fertilizantes tenham ficado de fora, a nova tarifa atinge diretamente cerca de 36% das exportações brasileiras aos Estados Unidos, acirrando uma disputa comercial com impactos relevantes em ambos os países.