Publicidade evento Churrascaje 2024

UFN3 fica para 2029: novo adiamento pela Petrobras frustra expectativa de retomada da velha fábrica em Três Lagoas

Foto: reprodução
Rogério Potinatti
3/12/2025
às
8:00

A tão aguardada retomada da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN3), em Três Lagoas, ganhou um novo capítulo — e não é dos mais animadores.

No novo Plano Estratégico 2026–2030, divulgado pela Petrobras esta semana, a estatal empurrou para 2029 o início da produção na fábrica -- que nem foi inaugurada, mas já é considerada velha -- com início de construção em 2011 (há 14 anos).

A estimativa anterior era de que a unidade pudesse operar antes do fim do atual mandato do presidente Lula (2024/2028), o que está longe de ser concretizado.

A decisão acendeu um alerta no setor e frustrou quem esperava ver, ao menos, o reinício das obras ainda nos próximos dois anos. Isso porque a Petrobras nem concluiu a contratação da empresa responsável pela construção, apesar de manter a concorrência aberta e com propostas previstas para chegada até o fim deste ano.

Sem contrato assinado, dentro e fora da estatal, já se trabalha com a possibilidade de o cronograma derrapar novamente — inclusive o próprio início das obras, antes esperado para 2026.

Visita às instalações da UFN3, em 2024, havia reacendido esperança de conclusão da fábrica | reprodução

Obras só em 2027?

Como a produção agora está projetada para 2029 e a construção leva cerca de dois anos, técnicos estimam que o canteiro só deve ganhar ritmo em 2027. Ou seja: a UFN3 deve permanecer em stand-by por mais um ciclo.

A Petrobras reafirmou que a conclusão da UFN3 é seu principal investimento na área de fertilizantes, ao lado das unidades da Bahia, Sergipe e Araucária, que já receberam contratos de manutenção.

A estatal também reforçou que segue destinando recursos para estudos na área petroquímica, apontando “potencial de valor e sinergia” com suas operações.

Uma prioridade que nunca chega

Apesar da nova diretoria da Petrobras garantir que a fábrica é prioridade — discurso reforçado pela presidente Magda Chambriard — a prática mostra um histórico de adiamentos.

A executiva afirmou recentemente que, com as Fábricas de Fertilizantes Nitrogenados da Bahia, Sergipe e Paraná funcionando, a Petrobras conseguirá atender 20% da demanda nacional. Com a entrada da UFN3, essa fatia saltaria para 35%.

A mensagem é positiva, mas contrasta com a realidade: o projeto segue parado desde 2014, mesmo com mais de 80% das estruturas prontas, sofrendo as ações implacáveis do tempo: ferrugens e apodrecimento das estruturas.

Uma obra que atravessou governos

Lançada em 2008 como aposta estratégica para reduzir a dependência do Brasil em fertilizantes nitrogenados, a UFN3 já passou por praticamente todos os humores da política nacional.

  • 2011: início das obras.
  • 2014: obras interrompidas após rompimento de contrato com a Galvão Engenharia, no contexto da Lava Jato.
  • 2018: tentativa frustrada de venda para o grupo russo Acron.
  • 2019–2022: entrou em pacotes de privatização, sem avanços.
  • 2023 em diante: com a mudança de governo, voltou ao discurso de prioridade — mas na prática, pouca coisa mudou.

Até hoje, a UFN3 continua sendo o projeto mais complexo da carteira da Petrobras, exigindo revisões técnicas, reavaliação de contratos e atualização tecnológica.

Tentativas para reativação das obras na UFN3 atravessam gerações de mandatos políticos, mas não dão resultados | reprodução

Investimento bilionário

Para concluir a fábrica, serão necessários cerca de US$ 800 milhões (mais de R$ 4 bilhões).

O valor é considerado viável pela estatal, mas só deve ser injetado quando o processo licitatório finalmente avançar — algo que, infelizmente, ainda parece distante.

Projetada em 2008 para fortalecer a produção nacional de fertilizantes, a UFN3 acabou virando refém das idas e vindas da política no Brasil| reprodução

E Três Lagoas?

Para a Capital Mundial da Celulose, o novo adiamento deixa um sabor agridoce.

A cidade segue com o título de polo estratégico para fertilizantes no Brasil, mas permanece sem uma definição concreta de quando verá o canteiro voltar a funcionar.

A expectativa de retomada, tão repetidamente ventilada, cede espaço ao pragmatismo: o relógio da UFN3 voltou a contar — mas agora para 2029.