A tão aguardada retomada da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN3), em Três Lagoas, ganhou um novo capítulo — e não é dos mais animadores.
No novo Plano Estratégico 2026–2030, divulgado pela Petrobras esta semana, a estatal empurrou para 2029 o início da produção na fábrica -- que nem foi inaugurada, mas já é considerada velha -- com início de construção em 2011 (há 14 anos).
A estimativa anterior era de que a unidade pudesse operar antes do fim do atual mandato do presidente Lula (2024/2028), o que está longe de ser concretizado.
A decisão acendeu um alerta no setor e frustrou quem esperava ver, ao menos, o reinício das obras ainda nos próximos dois anos. Isso porque a Petrobras nem concluiu a contratação da empresa responsável pela construção, apesar de manter a concorrência aberta e com propostas previstas para chegada até o fim deste ano.
Sem contrato assinado, dentro e fora da estatal, já se trabalha com a possibilidade de o cronograma derrapar novamente — inclusive o próprio início das obras, antes esperado para 2026.
Obras só em 2027?
Como a produção agora está projetada para 2029 e a construção leva cerca de dois anos, técnicos estimam que o canteiro só deve ganhar ritmo em 2027. Ou seja: a UFN3 deve permanecer em stand-by por mais um ciclo.
A Petrobras reafirmou que a conclusão da UFN3 é seu principal investimento na área de fertilizantes, ao lado das unidades da Bahia, Sergipe e Araucária, que já receberam contratos de manutenção.
A estatal também reforçou que segue destinando recursos para estudos na área petroquímica, apontando “potencial de valor e sinergia” com suas operações.
Uma prioridade que nunca chega
Apesar da nova diretoria da Petrobras garantir que a fábrica é prioridade — discurso reforçado pela presidente Magda Chambriard — a prática mostra um histórico de adiamentos.
A executiva afirmou recentemente que, com as Fábricas de Fertilizantes Nitrogenados da Bahia, Sergipe e Paraná funcionando, a Petrobras conseguirá atender 20% da demanda nacional. Com a entrada da UFN3, essa fatia saltaria para 35%.
A mensagem é positiva, mas contrasta com a realidade: o projeto segue parado desde 2014, mesmo com mais de 80% das estruturas prontas, sofrendo as ações implacáveis do tempo: ferrugens e apodrecimento das estruturas.
Uma obra que atravessou governos
Lançada em 2008 como aposta estratégica para reduzir a dependência do Brasil em fertilizantes nitrogenados, a UFN3 já passou por praticamente todos os humores da política nacional.
- 2011: início das obras.
- 2014: obras interrompidas após rompimento de contrato com a Galvão Engenharia, no contexto da Lava Jato.
- 2018: tentativa frustrada de venda para o grupo russo Acron.
- 2019–2022: entrou em pacotes de privatização, sem avanços.
- 2023 em diante: com a mudança de governo, voltou ao discurso de prioridade — mas na prática, pouca coisa mudou.
Até hoje, a UFN3 continua sendo o projeto mais complexo da carteira da Petrobras, exigindo revisões técnicas, reavaliação de contratos e atualização tecnológica.
Investimento bilionário
Para concluir a fábrica, serão necessários cerca de US$ 800 milhões (mais de R$ 4 bilhões).
O valor é considerado viável pela estatal, mas só deve ser injetado quando o processo licitatório finalmente avançar — algo que, infelizmente, ainda parece distante.
E Três Lagoas?
Para a Capital Mundial da Celulose, o novo adiamento deixa um sabor agridoce.
A cidade segue com o título de polo estratégico para fertilizantes no Brasil, mas permanece sem uma definição concreta de quando verá o canteiro voltar a funcionar.
A expectativa de retomada, tão repetidamente ventilada, cede espaço ao pragmatismo: o relógio da UFN3 voltou a contar — mas agora para 2029.
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