A promessa de retomada das obras da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN3), em Três Lagoas, segue sem sair do papel. Passado mais de um ano desde o anúncio oficial feito por representantes da Petrobras e do governo federal, nenhuma movimentação concreta foi registrada no canteiro da fábrica, que permanece do mesmo jeito: inativa, silenciosa e com cerca de 81% das obras concluídas desde 2014.
Anunciada como peça-chave para reduzir a dependência do Brasil por fertilizantes importados, a UFN3 foi apontada como prioridade na estratégia de reindustrialização do país. Em diversas ocasiões, autoridades reafirmaram o compromisso com a retomada. No entanto, até agora, o edital de licitação para contratação da empresa responsável pela conclusão do empreendimento não foi lançado — apesar da previsão de que isso ocorreria no primeiro semestre de 2025.
Com investimento estimado em R$ 4,6 bilhões, a planta industrial deve gerar cerca de 8 mil empregos temporários durante a fase de construção e 600 vagas diretas na operação, contribuindo para dinamizar a economia regional. A fábrica foi planejada para produzir anualmente 1,2 milhão de toneladas de ureia e 70 mil toneladas de amônia, abastecendo o mercado agrícola do Centro-Oeste e Sudeste do país.
Ainda em 2024, o conselho de administração da Petrobras autorizou a continuidade do projeto, mas os prazos se tornaram cada vez mais apertados. A expectativa inicial era concluir a obra até 2026, antes do término do atual governo federal. No entanto, com o atraso no processo licitatório e a necessidade de pelo menos 18 meses para finalização das obras, essa meta se torna improvável.

Em diversas falas públicas, a Petrobras reforçou que a industrialização será um dos motores do crescimento do país. A presidente da estatal, Magda Chambriard, chegou a afirmar que a empresa recebeu "uma encomenda do Planalto" para impulsionar o Produto Interno Bruto (PIB) e gerar impacto social. “Temos de mostrar que o que fazemos precisa ser revertido em progresso para o povo”, declarou.
A UFN3 tem localização estratégica, próxima a mercados agrícolas e grandes centros consumidores de fertilizantes. Em 2024, a demanda nacional por ureia chegou a 7 milhões de toneladas — praticamente toda importada. Por isso, a conclusão da unidade é considerada essencial para reduzir custos de produção no campo e dar mais autonomia ao agronegócio brasileiro.
Apesar do potencial transformador, o histórico da UFN3 é marcado por frustrações. As obras iniciaram em 2011, foram paralisadas três anos depois por denúncias de corrupção e passaram por sucessivas tentativas de venda que não se concretizaram — incluindo negociações com o grupo russo Acron.
A retomada definitiva agora depende de vontade política, agilidade no processo licitatório e comprometimento com a entrega. Enquanto isso, a estrutura da maior fábrica de fertilizantes nitrogenados da América Latina continua parada, enquanto a população de Três Lagoas segue à espera de um ciclo de crescimento que nunca começou.