Durante missão oficial à China nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou, ao lado do presidente Xi Jinping, um pacote histórico de cinco novos acessos simultâneos para produtos agropecuários brasileiros ao mercado chinês. A medida representa um avanço expressivo nas relações comerciais entre os dois países e abre caminho para bilhões em exportações, com reflexos diretos para a economia de Mato Grosso do Sul.
Os novos acessos foram oficializados em Pequim por meio de acordos entre o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e a Administração-Geral de Aduanas da China (GACC). Os produtos agora autorizados a entrar na China são:
- Carne de pato
- Carne de peru
- Miúdos de frango (moela, fígado e coração)
- Coprodutos do etanol de milho (DDG e DDGS)
- Farelo de amendoim
Segundo o ministro Carlos Fávaro, trata-se da maior liberação de produtos em um único ato na história do comércio bilateral entre Brasil e China. “É uma vitória construída com base na qualidade sanitária da nossa produção e no fortalecimento da confiança com o governo chinês”, afirmou.
Impacto direto em Mato Grosso do Sul
Com uma economia fortemente apoiada no agronegócio e na agroindustrialização, Mato Grosso do Sul é um dos estados mais beneficiados pelos novos acordos. Atualmente, cerca de 50% das exportações sul-mato-grossenses têm a China como destino. Com a liberação dos miúdos de frango, dos coprodutos do milho e do farelo de amendoim, o Estado tende a diversificar suas vendas externas e ampliar sua participação no maior mercado consumidor do mundo.
O destaque vai para o setor de etanol de milho, que ganha força com a inclusão dos DDG e DDGS – subprodutos utilizados na alimentação animal. O presidente da Unem, Guilherme Nolasco, classificou a conquista como “estratégica e em tempo recorde”, ressaltando que a abertura fortalece a sustentabilidade da produção e a segurança alimentar global.
Outro setor beneficiado é o do amendoim, no qual MS já é o segundo maior produtor nacional. O Estado vive um momento de expansão dessa cultura, com destaque para a instalação de uma nova unidade de processamento em Bataguassu, fruto de um investimento de R$ 117,5 milhões de uma cooperativa regional. A nova planta vai processar grão, sementes, óleo e farelo, e agora poderá exportar parte da produção para o mercado chinês.
Projeções bilionárias
Os novos acessos têm potencial para gerar até US$ 20 bilhões em exportações para o Brasil. Somente em 2024, a China já importou:
- US$ 155 milhões em miúdos de frango
- US$ 50 milhões em carne de peru
- US$ 1,4 milhão em carne de pato
- US$ 66 milhões em DDG/DDGS
- US$ 18 milhões em farelo de amendoim
Segundo Ricardo Santin, presidente da ABPA, a abertura simultânea para três cortes de carne de aves pode gerar mais de R$ 1 bilhão em receitas cambiais, destacando a confiança internacional na sanidade da produção brasileira.
Cooperação além do campo
Além dos acordos comerciais, Brasil e China firmaram memorandos de entendimento nas áreas de sanidade animal e vegetal, inteligência artificial aplicada à agricultura, mecanização da agricultura familiar e mobilidade sustentável com foco na produção de etanol de baixo carbono. A parceria inclui desenvolvimento conjunto de tecnologias e soluções voltadas à produção mais eficiente, sustentável e adaptada à realidade do campo brasileiro.
Entre os destaques está o compromisso de desenvolver máquinas agrícolas acessíveis para pequenos e médios produtores e a cooperação entre o Ministério de Minas e Energia e autoridades chinesas na promoção do etanol como combustível limpo, reforçando a relevância do biocombustível brasileiro na agenda climática global.
Com isso, o Brasil alcança 62 aberturas de mercado em 2025, totalizando 362 desde 2023 — reforçando a posição do país como um dos maiores fornecedores mundiais de alimentos e insumos agroindustriais.