Lembrado no último dia 07 de abril, o Dia do Jornalista é tradicionalmente uma data para homenagens, mensagens bonitas e exaltações ao papel essencial da imprensa em uma sociedade democrática. No entanto, em meio às congratulações e abraços virtuais, cabe uma reflexão: será que nós, jornalistas brasileiros, realmente temos motivos sólidos para comemorar?
Vivemos um momento especialmente delicado para o jornalismo no Brasil. De um lado, profissionais dedicados que enfrentam diariamente condições precárias de trabalho, jornadas extensas, pressão intensa por resultados rápidos, salários muitas vezes incompatíveis com a responsabilidade que carregam e constantes ameaças à própria integridade física e moral. Do outro, a sociedade, que convive com uma enxurrada de informações, muitas delas produzidas por indivíduos sem qualificação, pautados pela irresponsabilidade, pela busca do sensacionalismo barato e pela proliferação desenfreada de fake news.
A falta de regulamentação da profissão de jornalista é um problema histórico e uma verdadeira brecha por onde passam aventureiros que têm na desinformação seu principal produto. A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que derrubou a obrigatoriedade do diploma, foi um retrocesso gigantesco e que, desde 2009, abre portas perigosas. Desde então, qualquer pessoa — independentemente de formação, técnica ou compromisso ético — pode produzir conteúdo jornalístico, contribuindo, em muitos casos, para a corrosão da credibilidade da imprensa.
Esse ambiente caótico favorece o surgimento de pseudoprofissionais: indivíduos que manipulam notícias, espalham mentiras e prestam um verdadeiro desserviço à população brasileira.
Em sites de "notícias" irresponsáveis, redes sociais, blogs e portais obscuros multiplicam-se conteúdos distorcidos, informações distorcidas e falsas com análises rasas, que confundem a população, inflamam discussões improdutivas e prejudicam o processo democrático. Não por acaso, estamos imersos em um cenário preocupante, com pessoas cada vez mais descrentes no jornalismo profissional e mais vulneráveis a manipulações ideológicas.
Como jornalista, defendo que é urgente repensar e resgatar a regulamentação rigorosa do exercício profissional. Não se trata apenas de resguardar a nossa categoria, mas, sobretudo, de proteger a sociedade brasileira contra a desinformação. O exercício ético e qualificado do jornalismo exige formação técnica, compromisso ético, responsabilidade com a verdade e profundo respeito pelo público.
Precisamos cobrar que o poder público se debruce seriamente sobre essa questão, fortalecendo entidades que atuam na defesa do jornalismo sério e regulamentado. É necessário reconhecer a importância estratégica da profissão, valorizando a informação correta e qualificada como alicerce da democracia, e não como mero detalhe de discurso político.
Portanto, antes de celebrar o Dia do Jornalista com discursos floreados, convém refletir profundamente sobre nosso papel, a nossa realidade e os nossos desafios.
O momento pede que deixemos de lado as meras celebrações e que transformemos a data em um marco de luta pela valorização efetiva do jornalismo. Só assim poderemos ter, enfim, verdadeiros motivos para comemorar.
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Por: Rogério Potinatti
Jornalista profissional | MTB: 50.151/SP
Instagram: @rgpotinatti