Mato Grosso do Sul alcançou um marco inédito em 2024, tornando-se o maior beneficiário das emendas individuais do tipo “transferências especiais” — popularmente conhecidas como emendas Pix. Este formato de repasse, criticado pela falta de transparência, permite a destinação de recursos sem necessidade de plano de trabalho ou convênio. O senador Nelsinho Trad (PSD) lidera como o principal articulador dessa modalidade no estado.
Até o momento, o volume total de emendas Pix repassadas a Mato Grosso do Sul é o maior desde a criação do mecanismo, em 2020. Foram transferidos R$ 135,9 milhões, superando os R$ 120,5 milhões registrados em 2023. Deste montante, R$ 82,4 milhões foram destinados diretamente ao estado, com destaque para Campo Grande, que recebeu R$ 9,7 milhões, e Ivinhema, com R$ 3,12 milhões.
Campo Grande é o município mais favorecido, seguido por Ivinhema, governada pelo prefeito Juliano Ferro (PSDB), figura controversa envolvida em investigações da Polícia Federal e da CGU. Miranda ocupa a terceira posição com R$ 2,2 milhões, seguida por Dourados, que recebeu R$ 2,08 milhões.
O senador Nelsinho Trad lidera a distribuição de recursos para Ivinhema, destinando R$ 2 milhões ao município. Ele é seguido por Soraya Thronicke (Podemos), com R$ 774 mil, e Beto Pereira (PSDB), com R$ 350 mil.
Nelsinho Trad também se destaca como o maior liberador de emendas Pix em Mato Grosso do Sul, somando R$ 30,81 milhões destinados ao estado e prefeituras. O deputado federal Dagoberto Nogueira (PSDB) vem em seguida, com R$ 18,3 milhões, seguido de perto por Soraya Thronicke, que liberou R$ 17,2 milhões. O quarto lugar é ocupado por Rodolfo Nogueira (PL), apelidado de “Gordinho do Bolsonaro”, com R$ 17,08 milhões.
Por outro lado, a senadora Tereza Cristina (PP) optou por não utilizar esse mecanismo em 2024. Entre os que menos repassaram, destacam-se Camila Jara (PT), com R$ 1,4 milhão, e Marcos Pollon (PL), com R$ 5,4 milhões. Pollon foi o único parlamentar do estado a destinar parte dos recursos para outra unidade da federação, enviando R$ 1 milhão a São Paulo para financiar um vídeo de caráter ideológico.
Transparência em xeque
As emendas Pix têm gerado debates acalorados devido à ausência de exigências de prestação de contas detalhadas. Essa falta de transparência já motivou ações do Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar regulamentar a aplicação dos recursos, gerando atritos com parlamentares do Centrão e dificultando pautas do Executivo.
A distribuição recorde reforça a importância de um debate mais amplo sobre os critérios e a fiscalização desse tipo de repasse, que continua a ser objeto de questionamentos e disputas políticas.