A gestão de ecossistemas de inovação é um quebra-cabeça fascinante, mas complexo. O grande desafio não está apenas em reunir a Quádrupla Hélice (empresas, governo, sociedade organizada e ICTIs), mas em garantir o engajamento contínuo e a implementação de planos que saiam do papel. Em 2023, decidi ir além da tradicional “lista de carências” e perguntar aos atores o que, de fato, os motiva a participar. Queria entender o motor da inovação em Mato Grosso do Sul.
Entre 12 e 22 de dezembro de 2023, realizei uma enquete com 11 Ecossistemas Locais de Inovação. A resposta foi notável: alcançamos 345 atores das quatro hélices (empresas, governo, sociedade organizada e ICTIs). Com uma taxa de resposta de 34%, considerada significativa, foi possível ter em mãos padrões e tendências cruciais para a condução estratégica dos nossos ecossistemas. Vamos em frente?
O percentual de respostas da enquete (amostra) permitiu visualizar a intensa diversidade dos ecossistemas. O setor produtivo e o de pesquisa demonstraram forte presença, mas a distribuição também aponta onde podemos intensificar a atuação.

Geograficamente, os polos urbanos mais consolidados seguem à frente: Campo Grande, Dourados e Maracaju concentraram o maior número de respostas, seguidos por Naviraí, Chapadão do Sul, Três Lagoas e Corumbá. Esse panorama reforça a necessidade de descentralizar as ações e fortalecer os Ecossistemas de Inovação em municípios de menor porte.
Engajamento nos Ecossistemas de Inovação
Ao analisar a participação nas reuniões de governança em 2023, os dados revelam um padrão interessante: existe um Núcleo Ativo que mantém o ecossistema vivo, mas que precisa de renovação e novos estímulos.
- 39% dos respondentes estiveram presentes na maioria dos encontros — são o time de ponta, os que sustentam o movimento.
- 38% participaram de poucas reuniões — os intermitentes, que precisam de um novo convite e estímulo.
- 9% não compareceram a nenhuma — os ausentes, que precisam ser resgatados e reengajados.
A Fragilidade Crítica
A análise das práticas de comunicação nos grupos acendeu um alerta máximo: a maioria dos ecossistemas não adota, como rotina, a publicação de resultados, decisões e próximos passos após as reuniões. Isso gera consequências diretas:
- Os ausentes não conseguem acompanhar o andamento das ações.
- O senso de pertencimento e continuidade se perde ao longo do tempo.
- A assimetria de informação aumenta, dificultando o consenso e o avanço coletivo.
Conclusão parcial: não basta reunir — é preciso conectar o encontro ao cotidiano dos atores, transformando decisões em práticas contínuas.
O Motor da Participação — O que realmente faz um ator se mover?
Aqui chegamos ao ponto central: o que motiva empresários, pesquisadores e gestores a dedicar tempo ao ecossistema? A resposta é direta — engajamento nasce de resultados concretos, clareza de papéis e boa organização.
A seguir, os fatores que mais influenciam o interesse e a permanência dos participantes (em ordem de impacto motivacional e percentual correspondente).

A Grande Lição de 2023
O interesse dos atores dos ecossistemas de inovação não é movido, em primeiro lugar, por recursos financeiros diretos, mas pela geração de resultados concretos para o território e pela organização da liderança.
Três Tendências para o Roteiro dos Próximos Anos — O que Aprendemos?
Os dados de 2023 consolidam três tendências que devem orientar nossa estratégia nos próximos ciclos, formando uma sequência lógica e evolutiva para a governança:
- Necessidade de Descentralização:
A concentração geográfica observada em 2023 revelou a urgência de políticas de fomento e ações estratégicas voltadas ao fortalecimento dos ecossistemas em desenvolvimento no interior do Estado. - Arquitetura Informacional da Governança:
A ausência de comunicação sistemática após as reuniões foi identificada como o principal obstáculo ao engajamento. Tornar obrigatória a publicação de resultados, decisões e próximos passos é essencial para garantir transparência e participação contínua. - Abordagem Integrada e Tangível:
Os fatores motivacionais apontam para a necessidade de combinar três pilares: mapeamento de competências (para saber quem mobilizar), projetos colaborativos com impacto econômico local (para gerar valor) e organização das lideranças (para dar credibilidade ao processo).
Roteiro Prático — O que Priorizar?
Com o diagnóstico de 2023 em mãos — e considerando que 2024 não trouxe atualizações estruturais — propõe-se um conjunto de ações prioritárias e acionáveis para os próximos anos. É o nosso plano de voo para o engajamento, com foco em resultados, participação e continuidade.

A Arquitetura do Sucesso — Uma Conclusão Leve e Reflexiva
A pesquisa de 2023 nos deixou uma lição valiosa: governança colaborativa bem-sucedida não se constrói apenas com boas intenções, mas com arquitetura sólida. Ecossistemas de inovação são, antes de tudo, ambientes informacionais, e sua eficácia depende da capacidade de transformar dados em mensagens relevantes — e essas mensagens em ações coordenadas e consistentes.
Para os próximos anos, o grande desafio será tornar essa arquitetura visível e mensurável. Algumas métricas podem orientar esse processo, como:
- Taxa de projetos colaborativos concretizados;
- Índice de engajamento assíncrono (quantas pessoas permanecem ativas fora das reuniões);
- Grau de alinhamento com políticas públicas locais.
Minha percepção? Bora lá!
A cada ciclo de acompanhamento dos ecossistemas de inovação de Mato Grosso do Sul, percebo que os maiores avanços acontecem onde há transparência, execução ágil e mensuração constante dos resultados.
A inovação floresce onde a informação circula livremente e onde o valor é percebido e compartilhado por todos.
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