Tem momentos da vida em que o nosso coração quer correr na frente. A gente vê alguém que ama atravessando um desafio, uma confusão interna, uma fase mais silenciosa… e o impulso é estender a mão, resolver, puxar pela mão, “salvar”. Fazemos isso por cuidado, por afeto e, muitas vezes, por uma vontade bonita de ver o outro bem.
Mas existe uma verdade que, de início, pode até doer um pouquinho: o processo do outro é do outro. E compreender isso não nos torna frios. Pelo contrário. Nos torna mais presentes, mais reais e, sobretudo, mais respeitosos. Porque empatia não é entrar no campo do outro sem convite. Empatia é saber estar perto sem invadir. É oferecer atenção, presença, carinho, mas sem ultrapassar o limite sutil que separa o que é nosso do que não nos pertence carregar.
Às vezes, o que o outro vive não cabe nas nossas mãos. E tudo bem. Nosso papel é fazer o que está ao nosso alcance, nem mais nem menos. É oferecer o que é possível, não o que nos exaure. É lembrar que cada pessoa tem seu tempo, sua história, seus mecanismos internos, e que alguns movimentos só podem ser feitos por quem os vive.
Quando olhamos pela perspectiva sistêmica, isso fica ainda mais claro: cada um tem um lugar que lhe pertence. E, quando tentamos nos adiantar no caminho do outro, assumindo funções que não são nossas, algo dentro da relação se desequilibra. As coisas ficam pesadas, confusas… como se estivéssemos carregando uma mala que não fomos nós que preparamos.
Honrar o lugar de cada um é honrar a própria vida. É permitir que o fluxo siga. É confiar na força interna que cada pessoa tem, mesmo quando ela mesma não consegue enxergar isso de imediato.
E aqui entra um ponto delicado: respeitar o processo do outro não é se afastar. Não é deixar de amar. Não é abandonar. É, na verdade, um ato profundo de maturidade emocional. É respirar fundo e compreender que nosso amor também precisa confiar que o outro é capaz. E nós também. Porque, muitas vezes, ao nos retirarmos do lugar que não é nosso, encontramos o nosso próprio processo esperando por nós. Descobrimos que aquilo que tentamos resolver fora era, na verdade, um convite para olhar para dentro. Para nos reconhecer. Para ocupar o nosso lugar com mais verdade e menos interferência no caminho alheio.
E, quando juntamos tudo isso com o olhar terapêutico, o cenário fica ainda mais bonito. Porque a terapia é esse espaço seguro em que aprendemos a diferenciar o que é nosso do que é do outro. Um espaço onde acolhemos nossas urgências, nossas expectativas e até nossa vontade de ajudar demais, entendendo de onde isso vem, reorganizando internamente nossos lugares, limpando excessos que não precisamos carregar.
No fim, viver relações mais leves não é sobre fazer menos. É sobre fazer o que cabe. É sobre amar com liberdade. É sobre estar junto sem sobrepor caminhos. É sobre confiar que cada processo tem um ritmo e que respeitar isso é, também, um gesto profundo de amor.
Deixo aqui um convite a você, daqueles que pedem pausa e presença: observe, com sinceridade e carinho, onde você tem ultrapassado o seu próprio limite para sustentar processos que não são seus. Pergunte-se: o que realmente me cabe? O que não me pertence, mas eu tenho carregado por hábito, culpa ou medo de decepcionar?
Permita que essas respostas apareçam sem pressa. Às vezes, reconhecer o que é nosso e o que é do outro já é, por si só, um ato de cura. Porque, quando devolvemos interna e externamente aquilo que não é nosso, abrimos espaço para cuidar de nós com mais verdade, leveza e responsabilidade afetiva.
Sua jornada não precisa ser solitária!
O meu coração saúda o seu coração! Vamos juntos?


