Levar a criança interior para se divertir é um ato de cura. E eu adoro fazer isso! Sempre que a Carreta Furacão chega à cidade, meu coração se enche de alegria. Observar os personagens dançando com energia vibrante, sentir a música contagiante, ver a criançada se encantando com aquele universo colorido é, para mim, um verdadeiro resgate da espontaneidade e da felicidade autêntica. Mas, na última vez que embarquei nessa experiência, algo diferente aconteceu: entrei sorrindo e terminei chorando.
Dessa vez, enxerguei para além da diversão evidente. Vi o que está implícito, escondido nas entrelinhas desse espetáculo ambulante. Percebi que a Carreta Furacão é muito mais do que um desfile de cores, sons e coreografias de personagens que prendem a atenção. Ela é um palco vivo de histórias, desejos, realidades e sonhos. Um microcosmo da vida, onde cada cena carrega um significado profundo e, se olharmos com atenção, encontramos nela reflexos do nosso próprio caminho.
Logo no início do percurso, uma cena me tocou profundamente. Uma mãe embarcava na carreta com seu filho, enquanto o pai os acompanhava de carro, seguindo cada metro do trajeto. Ele não quis participar da festa diretamente, mas estava lá, garantindo que sua família estivesse segura, que aquele momento fosse vivido com alegria, mas também com proteção. Respeito, zelo, cuidado. Quantas vezes, na vida, não percebemos quem está nos acompanhando nos bastidores, garantindo que possamos seguir sonhando?
Mais adiante, notei três crianças e duas bicicletas, acompanhando incansavelmente a Carreta Furacão. Elas torciam para que os semáforos fechassem, pois assim poderiam descer e dançar ao lado dos personagens por alguns instantes. A cada parada, um deles pulava na bicicleta do amigo já em movimento, imitando a forma como os próprios personagens da carreta sobem e descem do veículo. Era um jogo de ilusão e desejo, de pertencimento e imitação, de vontade de fazer parte.
E eu me peguei torcendo com eles para que cada semáforo fechasse. Me emocionei. Porque ali estavam eles, na ousadia da infância, indo atrás do que queriam sem medo do ridículo, sem vergonha de se entregar à alegria. Vi neles o reflexo do que, muitas vezes, deixamos de ser quando crescemos. Quantos semáforos fechamos dentro de nós mesmos? Quantas vezes deixamos de dançar porque tememos o olhar alheio?
Em outro trecho do percurso, uma família estava sentada na calçada, assistindo ao cortejo. No meio deles, um pequeno Homem-Aranha de no máximo oito anos aguardava ansioso para, no trecho daquela quadra, mostrar sua coreografia, dar seus saltos e estrelas diante dos olhares atentos de sua família. Ele queria brilhar. Ele precisava ser visto. E quando finalmente chegou sua vez, dançou como se aquele fosse o palco de sua vida.
E, de novo, eu chorei. Chorei por perceber o quanto perdemos esse brilho quando crescemos. Perdemos a coragem de nos jogar na vida, de nos exibir para aqueles que amamos, de nos orgulhar da nossa própria espontaneidade. Crescemos e nos fechamos.
Querido leitor, como essa história ressoa dentro de você? Quantas vezes você deixou seus sonhos pelo caminho? Quantas vezes você silenciou sua criança interior para se encaixar em moldes que nem são seus? Quantas vezes você parou de dançar porque achou que não era mais hora ou lugar?
E, por fim, não posso deixar de mencionar os colaboradores da Carreta Furacão. Quantas histórias carregam, quantos sorrisos distribuem, quantos desafios enfrentam para estarem ali, dançando por nós? Tive a honra de conversar com um deles e percebi que há uma força silenciosa e poderosa nesses bastidores. Eles fazem mais do que entreter: eles sustentam sonhos, resgatam sorrisos, provocam emoções que talvez estivéssemos precisando reencontrar e carregam, nos bastidores da vida, os seus próprios desafios.
Minha proposta terapêutica para você é simples, mas profunda: olhe para a vida com os olhos da criança que você foi um dia. Reaprenda a se encantar com o simples. Permita-se brincar, dançar, sorrir sem motivo. Encontre a magia no cotidiano. Feche os olhos por um instante e imagine-se seguindo sua própria “Carreta Furacão interna”, aquela que leva seus sonhos, sua espontaneidade, sua liberdade. O que você faria se pudesse embarcar nela agora?
E então, você vai esperar o próximo semáforo fechar, ou vai dançar agora mesmo?
Vamos caminhar juntos?
O meu coração, saúda o seu coração!
Com afeto e gratidão!
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Por Pamella Schefer
Terapeuta, criadora do Yoga MAS: Movimentos, Aromas e Sentir
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