O avanço de casos de intoxicação por metanol no Brasil acendeu um alerta no setor de bares e restaurantes.
Em Mato Grosso do Sul, a Abrasel-MS (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) anunciou um treinamento online gratuito para orientar empresários e comerciantes sobre como identificar bebidas adulteradas e reforçar a importância da compra apenas em canais oficiais.
Embora não seja órgão de fiscalização, a entidade busca atuar de forma preventiva.
“O comerciante tem um papel essencial: proteger os consumidores, preservar a integridade do setor e garantir que apenas produtos autênticos cheguem ao mercado”, destacou a associação.
O curso vai abordar:
- Informações sobre os casos recentes de intoxicação por metanol;
- Como identificar rótulos ilegais ou adulterados;
- A importância de adquirir produtos apenas de fornecedores oficiais;
- Orientações em caso de suspeita de fraude;
- O papel dos empresários na difusão de informações seguras.
A iniciativa conta com apoio da ABBD (Associação Brasileira de Bebidas Destiladas) e da Abrabe (Associação Brasileira de Bebidas).
Situação em Mato Grosso do Sul
No Estado, até agora, não foram registrados casos de intoxicação por metanol. No entanto, operações recentes da Decon (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra as Relações de Consumo) apreenderam bebidas falsificadas em alguns estabelecimentos. Em 2025, o Procon-MS já notificou nove locais suspeitos de comercializar destilados adulterados, como gin, uísque e vodca.
O presidente da Abrasel-MS, João Francisco Denardi, reforça que a maioria dos comerciantes atua dentro da legalidade.
“Quem comete esse tipo de crime é exceção. Nosso papel é orientar e fortalecer a parceria com as autoridades para que punições sejam aplicadas apenas a quem insiste em descumprir as normas”, afirmou.
O Procon-MS recomenda que a população priorize estabelecimentos de confiança, desconfie de preços muito abaixo da média e sempre exija a nota fiscal.
Atenção também a sinais de adulteração, como lacre torto ou violado, rótulo desalinhado, erros de impressão, logotipos diferentes ou ausência de informações obrigatórias como CNPJ e endereço do fabricante.
O Ministério da Saúde reforça ainda que sintomas como dor abdominal, náusea, alteração da visão e confusão mental até 24h após o consumo de bebida alcoólica podem indicar intoxicação por metanol. Nestes casos, é fundamental procurar imediatamente atendimento médico e relatar as informações sobre a bebida ingerida.
Investigação
Um jovem de 21 anos morreu em Campo Grande após passar mal ao consumir bebidas alcoólicas, entre elas whisky e cachaça, no último fim de semana. Ele foi levado para a UPA Universitário com sintomas de desconforto estomacal, náuseas e vômito de coloração escura. Inicialmente, estava consciente e com pressão estável, mas o quadro se agravou rapidamente, levando à sua morte mesmo após tentativas de reanimação. O corpo foi encaminhado ao Instituto de Medicina e Odontologia Legal (Imol), onde exames toxicológicos deverão indicar a causa exata da morte.
A Polícia Civil abriu investigação para apurar se há ligação entre o caso e o consumo de bebidas adulteradas com metanol. A Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra as Relações de Consumo (Decon) recolheu 13 frascos de bebidas no estabelecimento onde o produto foi comprado, que agora serão submetidos à perícia. O delegado responsável destacou que, apesar da suspeita de intoxicação, a confirmação só virá com os laudos laboratoriais.
Até o momento, não há evidências diretas de que o caso esteja relacionado às intoxicações por metanol registradas em outras partes do país, mas a possibilidade não está descartada. O boletim de ocorrência solicita verificação de eventual intoxicação, inclusive por metanol, com encaminhamento do corpo para exame necroscópico detalhado. O prazo estimado para os resultados é de aproximadamente 30 dias.
Em nota oficial, a Sejusp e a Secretaria de Estado de Saúde informaram que acompanham o caso em conjunto com a Polícia Civil e órgãos de vigilância sanitária. A investigação trabalha com diferentes hipóteses, incluindo falsificação ou adulteração de produtos alimentícios, além de crime de perigo comum. O governo do Estado lamentou a morte, manifestou solidariedade à família da vítima e garantiu que todas as medidas necessárias estão sendo tomadas para esclarecer os fatos.
Denúncias e dúvidas podem ser feitas pelo Disque-Intoxicação (0800-722-6001), serviço nacional mantido pela Anvisa.
Abrasel Costa Leste reforça ações de prevenção
A Abrasel Costa Leste acompanha com atenção a preocupação nacional em torno dos casos de intoxicação por metanol em bebidas adulteradas registrados no estado de São Paulo e também a suspeita de um falecimento em Mato Grosso do Sul.
De acordo com o presidente da associação, Brenner Salviano, a prioridade é proteger consumidores e dar suporte aos empresários locais. Para isso, a entidade tem buscado informações e orientações junto a órgãos competentes, como a Vigilância Sanitária e a Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra as Relações de Consumo (Decon), atuando de forma preventiva e responsável.
Além da mobilização regional, a Abrasel nacional disponibilizou um treinamento online gratuito para capacitar empresários — associados e não associados — sobre como identificar possíveis fraudes, evitar a compra de bebidas de origem duvidosa e garantir a segurança na comercialização.
"A Abrasel Costa Leste lamenta os episódios recentes e destaca que o setor de bares e restaurantes é composto, em sua ampla maioria, por empresários sérios, comprometidos em oferecer qualidade e segurança aos clientes. O objetivo é tranquilizar a população, reforçando que medidas concretas estão sendo adotadas para evitar que situações graves como essas ocorram na região", finaliza a nota.
Atualização de casos
O Brasil tem 209 casos em investigação de intoxicação por metanol após ingestão de bebida alcoólica, segundo informações divulgadas pelo Ministério da Saúde neste domingo (5). Em todo o país, são 16 casos confirmados - 14 em São Paulo e 2 no Paraná. As informações são enviadas pelos estados e consolidadas pelo Centro de Informações Estratégicas e Resposta em Vigilância em Saúde Nacional (CIEVS).
O estado de São Paulo responde pela maioria das notificações, com 14 casos confirmados e 178 em investigação.
Ao todo, 13 estados tem casos notificados - Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pernambuco, Paraná, Rondônia, São Paulo, Piauí, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraíba e Ceará. Os estados da Bahia e do Espírito Santo tiveram os casos registrados descartados. Já o Ceará notificou o primeiro caso suspeito.
Até o momento, o país tem 15 registros de óbitos, com duas mortes confirmadas no estado de São Paulo. As demais mortes (13) estão em investigação.
- 7, em São Paulo,
- 3, em Pernambuco,
- 1, no Mato Grosso do Sul,
- 1, em Paraíba,
- 1, no Ceará.
As informações consideram os registros enviados pelos estados até as 16h deste domingo (5) e estão sujeitas a atualizações locais.
Antídoto
O Ministério da Saúde informou também que iniciou a distribuição de etanol farmacêutico, antídoto utilizado no tratamento de intoxicações por metanol, aos estados que formalizaram pedido de reforço de estoque.
Nesta primeira remessa, foram enviadas 580 ampolas a cinco estados:
- 240 para Pernambuco,
- 100 para o Paraná,
- 90 para a Bahia,
- 90 para o Distrito Federal,
- 60 para Mato Grosso do Sul.
As unidades distribuídas fazem parte das 4,3 mil ampolas entregues aos estoques dos Sistema Único de Saúde (SUS) pelos hospitais universitários federais, em parceria com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
Emergência
A intoxicação por metanol é uma emergência médica de extrema gravidade. A substância, quando ingerida, é metabolizada no organismo em produtos tóxicos (como formaldeído e ácido fórmico), que podem levar à morte.
Os principais sintomas da intoxicação são: visão turva ou perda de visão (podendo chegar à cegueira) e mal-estar generalizado (náuseas, vômitos, dores abdominais, sudorese).
Em caso de identificação dos sintomas, busque imediatamente os serviços de emergência médica e contate pelo menos uma das instituições a seguir:
Disque-Intoxicação da Anvisa: 0800 722 6001;
CIATox da sua cidade para orientação especializada;
Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo (CCI): (11) 5012-5311 ou 0800-771-3733 – de qualquer lugar do país;
É importante identificar e orientar possíveis contatos que tenham consumido a mesma bebida, recomendando que procurem imediatamente um serviço de saúde para avaliação e tratamento adequado.
A demora no atendimento e na identificação da intoxicação aumenta a probabilidade do desfecho mais grave, com o óbito do paciente.
*Reportagem atualizada às 10h04 de 06/10/2025 para atualização no número de casos e acréscimo de informações.