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Um julgamento que jornalistas e a história não deixarão esquecer

Foto:
Rogério Potinatti
12/9/2025
às
17:40

Às 16h20 do dia 11 de setembro de 2025, o Brasil atravessou um momento que ficará registrado nos livros de história.

A ministra Cármen Lúcia, em voto firme e sereno, formou maioria na 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal para condenar, pela primeira vez, um ex-presidente da República, um ex-comandante da Marinha e generais do Alto Comando do Exército pelo crime de tentativa de golpe de Estado.

A decisão vai muito além da punição de réus ilustres. Ela representa um recado inequívoco: não há espaço para aventuras autoritárias em um país que já pagou caro demais para conquistar a democracia.

O julgamento expôs fissuras, resistências e até ironias entre ministros.

O voto isolado de Luiz Fux, longo e repleto de críticas ao relator Alexandre de Moraes, trouxe certo alívio à base bolsonarista, que chegou a comemorar em conversas de corredores. Mas a vitória foi efêmera: no dia seguinte, com a adesão de Cármen Lúcia, o núcleo central da trama golpista foi condenado com penas que variam de 16 a 27 anos de prisão.

Houve também simbolismos.

Gilmar Mendes circulando entre os corredores, Barroso presente para marcar posição antes de deixar a presidência do STF, Dino lembrando que golpe não se faz por “mera turba desordenada”. E Cármen Lúcia, em tom poético, evocando versos de Affonso Romano de Sant’Anna para diferenciar país de ajuntamento, democracia de regimento.

A condenação não elimina o risco de retrocessos. Mas mostra que, ao contrário do que muitos acreditavam, as instituições brasileiras não estão dispostas a fechar os olhos para a subversão da ordem.

O golpe de 2023, travestido de “Festa da Selma” nas redes, revelou uma engrenagem que misturou militares de alta patente, lideranças políticas e interesses externos.

Agora, a Justiça sinaliza que não basta perder nas urnas para tentar reescrever as regras do jogo.

É natural que haja divergência, como mostrou o voto de Fux. Mas o mérito da decisão está em deixar claro, inclusive perante a comunidade internacional, que no Brasil não há condescendência com quem conspira contra a democracia.

O episódio nos convida a refletir sobre a importância da memória coletiva.

Golpes não acontecem de repente; são construídos em discursos inflamados, em narrativas falsas e em ataques sistemáticos às instituições. A condenação do núcleo golpista é um freio necessário, mas não pode ser vista como ponto final.

É hora de vigilância.

É hora de reafirmar, como disse Barroso, que só a ignorância ou a má-fé podem interpretar essa decisão como perseguição política. O que vimos foi a aplicação da lei a quem tentou calar o Estado de Direito.

E isso, mais do que punir, é educar: para que cada brasileiro entenda que democracia não é favor: é conquista. E como tal, exige defesa diária.

Por:

Rogério Potinatti

Jornalista profissional | MTB: 50.151/SP